‘Rei do Cazaquistão’, brasileiro ganhou Land Rover por título e agora sonha com Copa do Mundo.
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“Entro em um táxi e os taxistas já falam: ‘Cacau, Cacau’. É muito legal o reconhecimento, por onde passo. Parece jogador de futebol.” O Cacau em questão é Ricardo Sobral, potiguar de 46 anos e que acaba de levar o Kairat, do Cazaquistão, ao segundo título da Champions League de futsal ao derrotar o poderoso Barcelona por 3 a 2.
São três anos e dois títulos continentais para o comandante, que jogou por cinco anos e meio no Kairat e assumiu o time em fevereiro de 2013. Meses depois, acabou conquistando a Europa pela primeira vez, que também foi a primeira vez na história do clube. O reconhecimento dos dirigentes veio logo em seguida.
“Ganhei uma Land Rover de presente pelo primeiro título. É um país maravilhoso, sem violência, mas é claro que o principal que fazem os brasileiros vir para cá é a questão financeira. Aqui, um jogador ganha o dobro do que se paga na Intelli/Orlândia, por exemplo. No aniversário, jogadores recebem um iPhone 6. Pelo título de domingo, o presidente deu 400 mil dólares para ser dividido entre todos os jogadores. Mas com certeza terá mais coisa,” disse o treinador, que conta hoje no elenco com 11 jogadores nascidos no Brasil.
O ‘algo a mais’ que se refere Cacau diz respeito a ajuda de governantes. Grandes banquetes, com envelopes de dinheiro em forma de agradecimento, são comuns no país. O elenco será recebido pelo governo de Almaty, cidade onde o time está localizado, e também se encontrará com o presidente Nursultan Nazarbayev, reeleito neste domingo com 97% dos votos. “Foram duas festas, uma pela eleição e outra pelo nosso título. E ele (Nazarbayev) já ligou para a gente parabenizando pela conquista,” ressaltou o brasileiro.
As eleições no país, contudo, nunca foram consideradas justas pelos observadores internacionais. Nazarbayev está no poder desde 1991, quando o Cazaquistão se declarou independente após a dissolução da União Soviética. O país tem grande presença de empresas de gás natural, petróleo e outros minérios, que inclusive ajudam no desenvolvimento dos esporte. Uma delas, por exemplo, é a maior patrocinadora do Kairat.
Com a moral de quem revolucionou a modalidade no Cazaquistão, Cacau sabe que será difícil de deixar o país. Mas um retorno ao Brasil nos próximos anos está nos planos do treinador.
“O presidente aqui me dá carta branca, o país me acolheu muito bem, sou muito agradecido e posso dizer que sou muito feliz de trabalhar no Cazaquistão. Porém, são 20 anos fora do Brasil, não passo um Natal e um Ano Novo no meu país faz muito tempo, fico distante dos familiares, e isso é muito duro. Renovei por três anos, e a multa recisória é bem alta, então será difícil sair. Mas pretendo sim voltar ao Brasil após o fim do meu contrato, para dirigir uma equipe do meu país. Sou um apaixonado pelo futsal brasileiro, é o melhor do mundo, e também sonho em um dia dirigir a seleção brasileira.”
‘Não quero uma seleção de naturalizados’
Cacau também dirige a seleção do Cazaquistão, que fará um mata-mata para conseguir classificação para a Eurocopa. Na primeira fase, o país “assombrou o mundo” ao derrotar Portugal por 3 a 1. Agora, segundo o próprio Cacau, nada é impossível para o Cazaquistão.
“Temos chance de classificar. Meu sonho é classificar Cazaquistão para o Mundial. São 3 anos na seleção e vejo a evolução dos cazaques. Trabalhar na Rússia, na Espanha, é muito fácil. Agora, vir para onde a modalidade praticamente não existia, e ver a evolução, é muito prazeroso,” disse o treinador.
Essa evolução é tão prazerosa que o treinador não deseja seguir o caminho de times como Rússia e Itália, que naturalizam vários brasileiros para suas seleções. “Tenho o Higuita e o Léo, e agora o Douglas acaba de se naturalizar. Foi um pedido meu para o presidente da Federação, quero só três naturalizados. Quero uma seleção de cazaques, e não uma seleção brasileira”, finalizou o ‘Rei do Cazaquistão’.