Sensação do Paulista se empolga e provoca: ‘Vamos ser campeões contra o Corinthians’.
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Rafael Valente, de São Paulo (SP), para o ESPN.com.br.
Não é exagero afirmar que desde o fim dos anos 1980 o São Bento deixou de ser um dos protagonistas do interior paulista para amargar um período no ostracismo, tendo jogado 11 vezes a segunda divisão do Estado e dez vezes a terceira. De volta a elite no ano passado, o clube de Sorocaba vive uma temporada mágica. Na primeira fase do Paulista teve a terceira melhor campanha, atrás de Corinthians e Santos, e virou a sensação do torneio. E acredite o ‘Bentão’ não quer parar no duelo com os santistas pelas quartas de final, que será jogada neste sábado, na Vila Belmiro, em Santos.
“O Santos vai sofrer para tentar ganhar da gente. Nós fizemos uma sugestão de mandar o jogo deste sábado no Pacaembu ou em Barueri, mas eles não concordaram. Acharam melhor manter na Vila Belmiro. Vão tentar empatar conosco para perder nos pênaltis e ficar menos feio. Nós vamos chegar até a final contra o Corinthians e vamos ganhar o título na Arena”, disse Wilson Vieira, diretor de futebol do São Bento, aoESPN.com.br.
O dirigente não considera a afirmação uma provocação. Para ele é otimismo com o trabalho feito no clube e que resgatou a equipe da terceira divisão há quatro anos e hoje pode terminar com a melhor campanha no Estadual na história do ‘Bentão’ – o melhor ano foi em 1963 quando ficou atrás apenas de Palmeiras, São Paulo e Santos.
“No último domingo vencemos o São Paulo por 1 a 0 com seis desfalques. Se todos estivessem em campo venceríamos por 4 a 0. Matamos o time deles. Engolimos o [Edgardo] Bauza [técnico do São Paulo], que é fraco taticamente. Por isso tenho certeza que vamos ganhar bem do Santos, na Vila Belmiro, e buscar o título”, insistiu Vieira.
Foram muitas transformações para o São Bento chegar ao atual momento. O clube terminou 2011 acumulando fracassos e decepções. Em toda a temporada, foram apenas sete vitórias em 32 jogos. O time foi rebaixado para a Série A3 do Estadual, com a segunda pior campanha, e eliminado na primeira fase da Copa Paulista.
As crises no São Bento eram de todo o tipo. A agremiação ficou sem pagar salários, o que fez os jogadores reagirem com uma greve. A torcida chegou a intimidar jogadores e diretores. E o clube até ameaçou fechar as portas.
Hoje, o orçamento é baixo para o padrão dos classificados, mas faz com o São Bento mantenha sua situação financeira sob controle, sem correr riscos.
A diretoria gasta pouco mais de R$ 300 mil mensais com salários dos jogadores (é a folha mais baixa entre os oito times das quartas), apesar de ter atletas experientes – Morais e Edno, por exemplo, ambos com passagens pelo Corinthians e pelo exterior.
O que mantém as finanças da equipe em dia são as parcerias. O time estampa as marcas da Claro, da Ossel, Natuclin, Unimed, Sorocaps, entre outras. Cada uma coopera de uma maneira com a equipe de Sorocaba.
“A Unimed está conosco desde o começo. Além de patrocinar, a equipe faz exames médicos nos jogadores. No futebol profissional, com um calendário apertado, não preciso nem explicar a importância de ter um departamento médico bom para recuperar rapidamente os atletas. Perdemos três titulares na penúltima partida da fase de classificação e os três já estão recuperados para enfrentar o Santos”, disse Vieira.
O clube também tem uma cota pela transmissão dos jogos do Estadual: cerca de R$ 3 milhões – os quatro grandes recebem R$ 17 milhões.
“Eu costumo brincar que o São Bento já começa o Paulista perdendo de goleada para os rivais. Pelo menos nas finanças. Isso significa que nossa margem de erro tem de ser menor. Se errarmos numa contratação vamos sofrer mais. Podemos até cair. Então, temos de ser bem criteriosos sobre quanto e em quem gastar”, explicou Vieira.
TIRANDO O PÉ DA LAMA
As mudanças começaram ainda em 2011. Em novembro daquele ano, o empresário Fernando Martins da Costa Neto foi eleito presidente do clube.
Aos assumir, anunciou uma reformulação na diretoria e passou a comandar o clube com o mesmo grupo que está com ele até hoje – ele foi reeleito em 2015.
Os primeiros passos foram para diminuir os problemas. Havia mais de 350 ações trabalhistas contra o clube, salários atrasados e outras dívidas para ser corrigidas – hoje o clube diz ter apenas quatro casos ainda não resolvidos.
Na Série A3 de 2012, a equipe ficou fora da zona de classificação no saldo de gols. Terminou na nona colocação, com os mesmos 28 pontos do Batatais. O técnico do clube foi Claudinho Anacleto, mas ele foi substituído por Edson Vieira.
Foi ele quem conduziu (sem sucesso) o time na Copa Paulista daquele ano. A equipe foi eliminada ainda na primeira fase. Em 14 jogos, foram apenas quatro vitórias. Mas a base do time que jogaria a terceira divisão no ano seguinte foi formada ali.
Em 2013, o São Bento dominou a Série A3. Somo 40 pontos na primeira fase, tendo vencido 12 dos 19 jogos (foram ainda quatro empates e três derrotas) e liderando a classificação. Na segunda fase, foi líder do grupo com Itapirense, Sertãozinho e Inter de Limeira, tendo sofrido apenas uma derrota em seis jogos. Obteve assim o acesso à A2.
A equipe de Sorocaba ainda coroou o momento ao disputar o título com o Batatais e sagrar-se campeão, ao vencer por 3 a 1, em Batatais, e empatar por 1 a 1, em casa.
DE VOLTA À PRIMEIRA
O time que jogou a Série A2 em 2014 foi bastante modificado, começando pelo técnico. Saiu Edson Vieira e chegou Paulo Roberto Santos, o mesmo que está até hoje.
A preparação iniciou no final de 2013 e deu resultado. A equipe só não esteve entre os quatro primeiros colocados (grupo do acesso) nas duas primeiras rodadas. Chegou a liderar a competição em alguns momentos e terminou em terceiro.
O São Bento chegou a jogar de igual para igual com times como Red Bull Brasil, Ferroviária e Guarani, que tinham orçamento superior à equipe de Sorocaba.
A preparação para a primeira divisão foi feita durante a Copa Paulista (clube chegou às quartas de final) e numa pré-temporada iniciada já em dezembro.
A volta à elite (a última vez havia sido em 2007) foi boa. A equipe não conseguiu se classificar para as quartas de final, mas também não correu risco de ser rebaixada. Ao final das 19 rodadas, as únicas derrotas tinham sido para os grandes Palmeiras e São Paulo, além de um empate com o Santos por 2 a 2, na Vila Belmiro.
Neste ano, a equipe não foi derrotada por nenhum dos grandes que enfrentou: 2 a 2 com o Palmeiras, 1 a 1 com o Corinthians e 1 a 0 no São Paulo. O time venceu sete jogos, empatou seis e perdeu apenas dois (Red Bull e Osasco Audax foram os algozes).
ESTRUTURA E FUTURO
Um dos símbolos do crescimento do São Bento é a inauguração de um moderno centro de treinamento onde era o antigo estádio Humberto Reale, em Sorocaba.
Abandonada após a inauguração do estádio Walter Ribeiro, em 1978, o local passou por uma transformação a partir de 2011. O local ganhou um alojamento para os atletas com seis apartamentos, academia, departamento médico e campo para treino.
O custo aproximado do emprendimento foi de R$ 2 milhões, mas o clube alega que muita coisa foi obtida por meio de doação ou com ajuda dos torcedores. Atualmente está construindo novos apartamentos no local.
A ideia da diretoria é manter o clube na primeira divisão do Campeonato Paulista e buscar um calendário anual, com participação em alguma divisão nacional. O objetivo pode ser alcançado ainda nesta temporada. Como melhor equipe da primeira fase do Estadual, o São Bento está quase com vaga garantida na Série D nacional.
A Federação Paulista tem de indicar os dois melhores do Estadual para a a disputa da quarta divisão. Como o torneio ainda não terminou, o São Bento pode perder a vaga se for eliminado pelo Santos e dois dos outros três concorrentes avançarem, no caso São Bernardo, Osasco Audax e Red Bull Brasil.
“É muito importante ter um calendário anual até para o planejamento financeiro do clube. Hoje, todos nossos jogadores têm contrato até o final de maio. Não há condições de oferecer mais. Isso dificulta na hora de contratar”, explicou Vieira.
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