18/04/2024

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Ele jogou no Palmeiras e Grêmio e anulou Falcao García e Diego Costa; hoje, se aventura na Série D.

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Francisco De Laurentiis e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br

O volante Claude Makelele, multicampeão com Real Madrid, Chelsea e seleção francesa, já parou de jogar faz tempo e hoje é assistente técnico do Swansea, na Premier League. Seu “genérico”, porém, ainda desfila seu futebol pelo Brasil.

Trata-se de Leandro dos Santos de Jesus, ex-jogador de Palmeiras e Grêmio, mais conhecido como Makelele. Recentemente, ele foi anunciado como reforço do Espírito Santo FC, da Série D, que conta com sua experiência para buscar o acesso à 3ª divisão nacional.

Natural de Salvador, o meio-campista teve uma infância humilde antes de vencer na bola.

“Eu vendia laranja e temperos em um carrinho de mão para ajudar em casa. Também vendia picolé, e, para conquistar os clientes, tive que aprender a me virar e ser extrovertido desde cedo”, brinca Makelele, conhecido pelo sorriso fácil, em entrevista ao ESPN.com.br.

Seu primeiro time foi o Vitória, nas categorias de base. Depois, foi para o Real Salvador, equipe famosa por suas categorias inferiores, onde atuou com atletas como o lateral direito Apodi, hoje na Chapecoense, e o meia-atacante Ananias, ex-Palmeiras, Cruzeiro, Sport e Bahia, que faleceu tristemente no acidente de avião da Chape.

“Nosso time no Real Salvador era um timaço. Naquela época, eu ainda atuava como meia, só distribuindo as jogadas. Um dia, um empresário me viu e me perguntou se eu gostaria de fazer um teste em São Paulo, e eu topei na hora. Ele me levou para o Santo André e eu fui aprovado”, conta.

No clube do ABC paulista, ele mudou de posição e ganhou o apelido que lhe acompanha até hoje.

“No Santo André, fui transformado em volante. Nisso, o (ex-zagueiro) Dedimar falou que eu era parecido com o Makelele francês e o apelido pegou no mesmo dia (risos). Todo mundo começou a me chamar assim e nem teve como tirar. Mas no fim foi bom, porque o Makelele era craque de bola (risos). Pior se tivessem me dado um apelido de jogador ruim. Eu sempre gostei de ser chamado de Makelele”, diverte-se.

FERNANDO PILATOS/GAZETA PRESS

Makelele em ação pelo Palmeiras, no Campeonato Brasileiro de 2007
Makelele em ação pelo Palmeiras, no Campeonato Brasileiro de 2007

Vindo da Bahia, o atleta ficou morando no próprio estádio do “Ramalhão” e passou por alguns apuros.

“Eu morava debaixo das arquibancadas do Bruno José Daniel. Em 2005, fomos jogar os Jogos Abertos do Interior e choveu um monte, alagou Santo André inteira, inclusive o estádio. Peri tudo… Fiquei sem roupas, sem documentos, sem nada…”, recorda.

No ano seguinte, porém, veio a alegria de ser promovido ao time de cima do Santo André.

“Eu subi para jogar o Paulistão de 2006, com caras como Pará [hoje no Flamengo], Maikon Leite [hoje no Bahia], Éverton Santos [hoje no Santa Cruz], Willians [hoje no Goiás]… Nossa estreia foi contra o São Paulo, que tinha acabado de ser campeão mundial, e nós surpreendemos todo mundo: ganhamos de 1 a 0. Joguei bem e depois disso nunca mais saí do profissional”, relata.

“Voando” pelo clube do ABC, Makelele rapidamente chamou a atenção de vários clubes.

“Foi tudo muito rápido, nem deu tempo de desfrutar o profissional no Santo André. Logo chegaram propostas de Santos, Goiás, Náutico e Palmeiras. Eu fui contratado pelo grupo DIS, que me colocou no Palmeiras”, conta.

  • ‘Levei uma p… bronca da minha mãe!’

No Palmeiras, em 2007, o jovem volante encontrou vários nomes “cascudos” e famosos.

“Joguei com caras espetaculares: Marcos, Edmílson, Denílson, Valdivia, Diego Souza, Alex Mineiro, Kleber Gladiador… Só caras de seleção! Foi maravilhoso, porque eu era moleque ainda e ‘caí’ no meio de vários caras experientes, mas eles me acolheram muito bem”, exalta.

DJALMA VASSÃO/GAZETA PRESS

Makelele e Valdivia durante treino do Palmeiras, em 2007
Makelele e Valdivia durante treino do Palmeiras, em 2007

Polivalente, Makelele rapidamente conquistou a confiança do técnico Caio Júnior.

“Eu cheguei e já virei titular ao lado do Pierre, que é muito amigo meu até hoje. No ano seguinte, fiz parte do elenco que conquistou o Campeonato Paulista. Foi aquela festa toda, porque o Palmeiras estava há bastante tempo ser campeão. Foram tempos muito bons, era espetacular jogar com aqueles caras”, lembra, saudoso.

Um jogo em especial neste período no Palestra Itália ficou guardado em sua memória.

“Teve uma partida que foi muito marcante por vários motivos. Era um Palmeiras x Vasco, eu estava voltando de suspensão e comecei no banco. Estávamos perdendo, eu entrei bem no segundo tempo e viramos a partida, mas eu fui expulso (risos). No dia seguinte, minha mãe me ligou e me deu uma p… bronca. Falou que estava todo mundo me assistindo em Salvador e que não era mais pra eu levar cartão vermelho (risos)”, gargalha.

No segundo semestre de 2008, Makelele foi emprestado ao Grêmio. Quase foi campeão brasileiro e ainda disputou a Libertadores no ano seguinte.

LUCAS UEBEL/PREVIEW.COM/GAZETA PRESS

Makelele comemora gol pelo Grêmio, no Campeonato Gaúcho de 2009
Makelele comemora gol pelo Grêmio, no Campeonato Gaúcho de 2009

“O time no Grêmio era muito bom, tinha o Réver [hoje no Flamengo], Victor [hoje no Atlético-MG] e vários outros. Foi uma equipe que eu gostei muito de jogar, principalmente na Libertadores, que foi uma bênção na minha carreira”, rememora.

“Esse time quase foi campeão brasileiro. Estávamos distantes do São Paulo, mas aí tropeçamos e eles nos passagem no final. Uma pena, porque faltou pouco para eu ser campeão de dois títulos importantes só em 2008, pois tinha conquistado o Paulistão com o Palmeiras”, lamenta.

  • Anulando Falcao García e Diego Costa na Europa

Depois do Grêmio, Makelele passou por Coritiba, Brasil de Pelotas, ABC, Linense e ainda teve mais uma passagem pelo Santo André antes de acertar sua ida para a Académica de Coimbra, da primeira divisão portuguesa.

No “Velho Continente”, virou titular absoluto e ajudou o clube a viver alguns de seus melhores anos, sendo vice-campeão da Supertaça de Portugal e disputando a Liga Europa.

Na fase de grupos da competição continental, aliás, a Académica enfrentou duas vezes o Atlético de Madri, que à época tinha um ataque poderosíssimo formado por Diego Costa e Falcao García. Na Espanha, os colchoneros levaram a melhor e ganharam por 2 a 1. Em Portugal, porém, Makelele teve grande atuação e anulou García e Costa, ganhando muitos elogios da imprensa e ajudando o time português a vencer de maneira surpreendente por 2 a 0.

“É muito difícil marcar tanto o Falcao quando o Diego Costa, mas acho que o Falcao no dia foi mais difícil, porque ele estava vivendo o auge da carreira. Mas consegui fazer um ótimo jogo”, ressalta.

FRANCISCO LEONG/AFP/GETTY IMAGES

Makelele marca Saúl Ñíguez, do Atlético de Madri, durante jogo da Liga Europa
Makelele marca Saúl Ñíguez, do Atlético de Madri, durante jogo da Liga Europa

“O Diego Costa gosta de trocar porrada, mas deu uma moral pra mim no dia porque eu também era brasileiro (risos). No fim, ele foi muito legal. Sabia que nosso time era pequeno e que a gente estava dando tudo de si em campo. Depois do jogo, conversamos bastante, foi ótimo, uma experiência maravilhosa. Ele disse que eu era uma ‘formiguinha’, porque estava mordendo em todas as partes do campo (risos)”, diverte-se.

Aquela Liga Europa ainda reservou outras aventuras que ele gosta de lembrar.

“Foi muito legal viajar pela Europa e conhecer vários lugares legais. Tive o prazer de jogar em Israel, na ‘Terra Santa’, contra o Hapoel Tel Aviv. Pra mim, que sou cristão, foi especial conhecer a terra de Jesus”, salienta.

A única lamentação desses tempos foi uma transferência para o Benfica que não deu certo.

“Nosso time da Académica fazia frente ao Porto, ao Benfica e ao Braga. Tive até uma proposta para jogar no Benfica, mas infelizmente não deu certo. Foi uma coisa que me deixou bem triste na época, mas acredito que tudo está no projeto de Deus para mim. Os times de Portugal fazem jogo duro para vender os jogadores, e a Académica preferiu me segurar”, conta.

Após a passagem por Portugal, Makelele jogou no Al-Kuwait, do Kuwait, e depois retornou ao Brasil, onde defendeu Cascavel e Rio Verde-GO.

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Makelele é a esperança do Espírito Santo FC para subir na Série D
Makelele é a esperança do Espírito Santo FC para subir na Série D

Em 12 de julho, ele foi anunciado como reforço do Espírito Santo FC para a fase final da Série D. A equipe vai enfrentar o Operário-PR nas oitavas de final, com o jogo de ida marcado para este sábado, às 16h (de Brasília). A volta será no dia 30, às 15h30.

“Vamos pegar o Operário, que é favorito e é um time complicado, mas estamos unidos e queremos buscar esse acesso. Eu cheguei há pouco tempo, mas estou bem fisicamente. Nosso time é muito bom, e se conquistamos esse acesso vai ser ótimo para a equipe e mais um bom momento para minha carreira”, encerra.

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