29/03/2024

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Thaisa conta seu drama: ‘Ver minha perna definhando é assustador’. Imagens fortes.

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Thaisa conta seu drama: ‘Ver minha perna definhando é assustador’

Thaísa fala do drama na recuperação de sua lesão

* por Igor Resende, do ESPN.com.br

Enquanto a seleção brasileira feminina de vôlei dá seus novos passos, Thaísa assiste de longe, do sofá de seu apartamento em Osasco. Uma das melhores centrais do mundo, ela enfrenta seu drama pessoal na recuperação da lesão mais grave de sua carreira.

Enquanto isso, recebeu a reportagem do ESPN.com.br no começo do mês e abriu o jogo. Falou sobre a preocupação em nunca mais voltar a jogar em alto nível por conta da lesão, do choro que chega quase do nada enquanto vê a ‘perna definhar’, da própria participação e da decepção e mágoa após a Olimpíada e do futuro em xeque na seleção brasileira.

VEJA COMO FOI O BATE-PAPO COM THAÍSA:

Foram duas lesões completamente diferentes. A do joelho é a mais grave, mas o trauma maior foi o do tornozelo. O que passou na sua cabeça naquela hora?

Veja como foi a assustadora lesão de Thaísa

Foi assustador. É assustador, nunca passei por uma situação dessa. Tinha sentido uma sensação estranha, senti uma pressão, mas nem imaginava. Quando vi meu pé nessa situação.. Vi no vídeo depois que eu estava gritando, mas na minha cabeça eu estava chamando o médico. Eu achava que estava chamando pelo nome dele, mas estava só gritando.

Eu não chorei em momento nenhum. O tempo todo pedia para tomar alguma coisa. Não estava sentindo dor, mas estava em pânico que alguém mexesse e doesse. Eu estava realmente em estado de choque. Eles me sedaram porque eu pedi. Depois comecei a me debater, não conseguia me controlar. Meu corpo não parava.

Você ver uma parte do seu corpo do avesso praticamente é muito chocante. Não consegui dormir por muito tempo. Eu pegava no sonho e começava a sonhar, ver aquela cena acontecendo tudo de novo. Horrível, horrível.

A cena não saia da cabeça. Tentava não pensar, mas dava um frio na barriga. Mas aos poucos foi melhorando.

Você não pode nem colocar o pé no chão por causa do joelho. Mas como faz para te ‘prender em casa’ nessa recuperação?

Está horrível. As pessoas falam: Nossa, como você é forte. Mas ninguém sabe como é o dia a dia. A parte pior é a recuperação. Ficar em casa, eu que sou muito ativa… Não sou de assistir TV, agora estou vendo tudo, sei te falar tudo que está acontecendo.

Tenho que ler, ver TV, fazer alguma coisa. È desesperador não poder colocar o pé no chão.

Você vê sua perna definhando dia após dia… É assustador par aum atleta. Não gosto dessa palavra, mas é o que eu sinto. A minha perna está cada vez mais fina, mais fina… Aperta o coração da gente! A gente treina tanto, faz tempo e de repente, em questão de duas semanas, perde tudo que tinha em questão de massa muscular

Agora estou começando a ver por outro lado, pensar em coisas muito mais positivas.

Mas nos primeiros dias foi muito complicado porque fica o tempo todo questionado. Será que vou conseguir treinar, saltar? Vejo alguns jogos de vôlei, dava aquela sensação de que ia pisar no pé de alguém, com foi comigo. Será que quando eu voltar vou ficar com esse medo? E se rejeitar a cirurgia, vai ser fim de carreira?

Meu marido fica o tempo todo do lado, dando muita força. Tem dia que está tudo ok, no dia seguinte não acordo bem. Aí choro. Ele olha e pergunta porque estou chorando. Eu não sei! Só porque estou com vontade. É uma angústia, um medo.

Mas tenho que evoluir, manter minhas energias, meu foco nas coisas que tenho que fazer par a melhorar.

Um pouco antes de lesionar o tornozelo você tinha dito que seu joelho era ‘uma bomba relógio prestes a explodir. Você acha que uma lesão teve a ver com a outra? Se arrepende de não ter parado de jogar antes?

Eu não sabia que precisava da cirurgia. Ataquei e cai de mal jeito, mas não senti dor, nada. Depois do jogo que fui sentir uma dor esquisita. Fiz exame, mas ninguém me falou que precisa de uma artroscopia. Falaram que em 15 dias fazendo fisioterapia, eu voltaria tranquilamente. Fiz umas injeções, fiz o que tinha que fazer, mas a dor não melhorava. Confiei no que estava dizendo.

Mas ficar forçando me fez ficar com mais dor. Comecei a não treinar para jogar. Só fazia musculação, injeção no joelho e jogava. E piorava cada vez mais. Tomei cinco de um remédio que só pode tomar um por dia. E no dia do jogo ainda tomei uma injeção do mesmo remédio para jogar.

Comecei a me assustar. Quando a gente fez outro exame, estava destruída. Aí foi que descobri que precisava ter feito em janeiro. O médico não me passou isso e eu fui forçando sem saber o que eu tinha. Aí já tinha agravado muito.

Perguntaram se eu queria tentar outro tratamento, com uma injeção bombástica. Resolvi tentar para jogar mais um pouco, mas falei que ia parar se sentisse qualquer dor. Fui para esse jogo. Mas o cérebro entende que aquilo ali não está legal. Mesmo sem sentir dor no momento, você joga mais o peso para o outro lado. E foi isso que eu fiz, sem perceber. Todos os saltos eu caí só na outra perna. Já caí no pé de outras meninas outras vezes, mas nunca tive a lesão assim. Porque você distribui o peso, mas ali eu não estava.

Mas costumo falar que foi a mão de Deus. Ele escreve certo por linhas tortas. Seria a única forma de parar para não acabar com a minha carreira.

Acha que no Brasil teria sido melhor? A comunicação teria sido melhor?

Eu me comunicava super bem com todo mundo. O médico que tomou a decisão dele. Acredito que seria diferente porque qualquer dor eu ia mandar para um médico que eu confio, para o meu fisioterapeuta da seleção… ia ter várias opiniões sobre o caso. E todos eles falaram que se tivesse feito uma artroscopia em janeiro seria muito menor.

Você disse que tem visto muitos jogos na TV durante essa recuperação. Tem visto a seleção feminina? Como vê esse trabalho de reconstrução ?

Estou achando o máximo. Eu sempre falo: tem que pegar essas meninas e botar para jogar. Pode ir super bem na Superliga, mas seleção é seleção. A pressão é diferente, as jogadoras do outro lado é diferente, esquema tático completamente diferente. É muito difícil jogar contra os times lá de fora. Fiz uma boa Superliga e mereço estar na seleção. Ok! Entra lá para ver! Não é bem assim, o buraco é muito mais embaixo. Essas meninas tem que pegar corpo treinando, jogando. Eu ganhei minha experiência assim, tomando pancada, passando por dificuldade e pressão. Quanto mais meninas melhor. É importantíssimo para gente.

Acho que esse processo de saída (de grandes jogadoras) é natural. Não só o físico vai caindo, mas a gente cansa mentalmente. É muito estresse, viagem, não tem descanso. É um processo natural. Por isso é importante começar esse teste muito antes, para ter a renovação quando alguém mais velho sair. Não é um estalo. Acho que a gente está crescendo. Você vê muitas meninas jogando com condição de crescer mais. E isso me deixa aliviada e feliz porque a gente torce muito. Sei o quanto isso faz feliz tantos brasileiro. Torço para que sempre evolua e consiga chegar ao nível que a gente teve a tantos anos.

Tem que trabalhar muito? Tem, mas estamos no caminho certo. Que bom que começamos com vitória (no torneio de Montreaux) porque dá aquele respiro para trabalhar.

Você se vê parte da seleção ainda?

Não sei, sinceramente. Em 2016 voltei de lesão, da cirurgia de 2015 e não treinei. Só jogava porque meu clube precisava de mim. Se eu treinava não conseguia jogar. Então eu ia para o jogo. Quando cheguei à seleção estava abaixo e cheguei a pedir ajudar. Eu não treinei, preciso retomar, se tiver alguma dificuldade não é por corpo mole. Tive dificuldade em 2016. Apesar de ter sido eleita a melhor central do Grand Prix ainda senti que estava bem abaixo. E estava o tempo todo pedindo ajuda. E foi muito difícil para mim. Tive cobrança excessiva, acredito que em alguns momentos não tive entendimento das pessoas em relação a isso, de ver que precisava de apoio e não de crítica. Não tive esse tipo de ajuda, pelo contrário. Foi um perrengue e não sei se quero passar por isso de novo.

Se eu tiver 100%, ‘Thaísa você está voando’, aí é outra história. Mas se eu tiver 80%, na mesma situação que eu estava, não sei se quero passar por isso. Porque foi chorar toda noite, sair do treino chorando, me sentindo um lixo, a pior jogadora do mundo. É complicado, não sei se quero passar por isso de novo.

Faltou apoio dentro da seleção mesmo?

Dentro da seleção. No momento que precisava de ajuda, auxílio, vieram palavras rudes, te diminuindo. Eu sempre respondi muito bem a isso. Quando me criticava, eu ia lá e mostrava quem era rim. Mas eu não estava 100%, como ia fazer isso? No momento que precisava de ajuda, aquele ‘vamos embora que você consegue’, foi quando recebi mais críticas e tive muitas dificuldades.

A Fabi foi minha mãezona.  Ela me carregou. Thaísa não estou reconhecendo você, E ela foi muito importante. Ela e a Sheila. Mas não quero passar por isso de novo. Por isso quero estar 200% para falar, ‘ok, vou’. Sei que sou forte, mas chega um momento que a gente não aguenta muito. Prefere jogar feliz, em paz, podendo botar para fora o que você tem de melhor.

Depois da Olimpíada alguém conversou com você sobre isso? Alguém da seleção mesmo?

Eu me bloqueei totalmente, não queria conversar com ninguém. Só com o Fernandinho, meu fisioterapeuta e que é muito meu amigo. Me fechei totalmente, estava muito magoada, chateada.

Mas já passou, não tenho raiva de ninguém, rancor ou mágoa. Pelo contrário. A gente cresce com isso. Pouco tempo depois já estava bem melhor.

Como ficou sua relação com o Zé Roberto? Ficou boa depois da Olimpíada?

Eu não joguei quase nada na Olimpíada. Se for somar os sets, acho que deu dois jogos na Olimpíada. Joguei só um jogo inteiro, que foi contra a Rússia.

Fiquei um tempo chateada sim depois da Olimpíada. Ninguém saiu feliz, sorridente, se dando super bem. Meu fato de eu não ter jogado muito me deixou mais chateada, não entendendo muita coisa. Mas depois passou. Na hora da raiva você não pensa muito, fica chateada, mas depois que passa você vê que já foi. Tenho uma relação aberta e ótima. A gente já conversou, ele me ofereceu o clube para eu me recuperar. Ele foi um dos primeiros a me ligar na Turquia para ver como eu estava, tentar me ajudar.

Atleta quer jogar, mas é natural. Tem que ser profissional, respeitar o que o chefe está mandando.

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