19/03/2024

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Automobilismo em miniatura: conheça o campeonato de Autorama; confira.

6 min read

Daniel Lisboa Do UOL, em São Paulo.

Campeonato Paulista de Autorama

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Como no automobolismo, equipes ajustam seus carros nestes “boxes” antes das corridas Daniel Lisboa/UOL

Na tarde do último dia 25 de abril, reuniram-se no subsolo de um edifício no bairro do Caxingui, em São Paulo, fieis entusiastas de uma das modalidades que mais exige reflexo no mundo. Para praticá-la, é preciso controlar um pequeno pedaço de plástico a uma velocidade equivalente a de um Boeing aterrissando. De que diabos estamos falando? Daquele brinquedo das pistas com fendas, e carrinhos em miniaturas comandados por um controle, que foi o presente mais aguardado por muito moleque durante os anos 60, 70 e 80.

Aliás, cuidado. Muitos destes moleques hoje são adultos, e não gostam de chamar o Autorama de brinquedo. Quase 30 deles (além de uma única participante do sexo feminino) estiveram na sede do clube de Autorama DG Slot Racer para a segunda etapa do Campeonato Paulista de réplicas. A competição reúne, desde 2008, fãs desta modalidade do Autorama. Nela, o importante é competir com reproduções meticulosamente bem feitas de modelos de automóveis do passado e do presente. Na outra modalidade existente, chamada de slot “bolha”, esse viés estético e de colecionador fica em segundo plano: o importante é a velocidade dos carrinhos.

Seis equipes participaram da prova realizada no sábado. Cada uma representou um clube de praticantes de Autorama. Além da equipe da casa, lá estavam pilotos do São Paulo Clube Slot Car, Espaço Formula (de Piracicaba), Slot Club Valinhos, Rato Raceway (de Mogi Mirim) e Slot Car Club Jundiaí. Eles conduziram suas possantes miniaturas nas categorias light, semipro A, semipro B e pro. Na competição, o objetivo não é chegar em primeiro, mas completar o maior número de voltas durante a prova. Cada carrinho corre por cinco minutos em cada uma das fendas da pista. No caso da DG Slot Racer, uma pista de 33 metros com seis fendas.

Também é automobilismo
“O Autorama não é só uma brincadeira. Não deixa de ser uma categoria do automobilismo”, diz Sérgio Del Grande, criador do DG Slot Racer e um dos criadores do Campeonato Paulista. “É como numa corrida de verdade. Ajustar um detalhe aqui, apertar uma peça ali, pode fazer a diferença entre ganhar uma prova ou não”, explica Sérgio. Entusiasta da difusão da modalidade, ele tem planos para trazer maior visibilidade e patrocínios para a competição. “Apesar dos carros serem pequenos e andarem muito rápido, já bolamos uma maneira de inserir o logotipo de marcas nas carrocerias.”

E, a julgar pela dimensão que as provas de Autorama têm lá fora, os planos de Sérgio podem vingar um dia. Em países como Itália, Espanha e Portugal, as competições reúnem centenas de participantes. A equipe do DG Slot Racer já competiu em algumas delas. Nas fotos dessas provas, as réplicas competidoras são tantas e tão bem feitas que, em imagens de ângulos mais fechados, tem-se a impressão que se trata de uma corrida com carros de verdade. Diferente do Brasil, nesses países já existem pilotos profissionais de fato e dinheiro de patrocinadores investido nos campeonatos, segundo Sérgio.

Época de ouro
“Nossa meta é termos um piloto na categoria pro no ano que vem”, diz Mauricio Buscarioli “Rato”, da Rato Raceway. Colecionador de Autorama, ele conta que, só de modelos da marca Estrela, tem 150 carros diferentes. “Hoje vou correr com um Toyota 88C, mas tenho Corvette, Ford GT 40…Os anos 60 e 70 foram o auge do Autorama”. Ou seja, se você acha que aquele pedaço de plástico disforme era o máximo que o brinquedo tinha a oferecer, sinta-se enganado.

“Não era qualquer criança que tinha, mas todas queriam”, resume Fabio Scortecci, da equipe Slot Car Club Jundiaí, sobre a “época de ouro” do Autorama. “Lembro até hoje de quando ganhei o meu no Natal. Fomos no Mappin da Praça Ramos de Azevedo (famosa loja de departamentos da capital paulista). Era no começo dos anos 70 e o Emerson Fittipaldi tinha acabado de ganhar o primeiro título mundial para o Brasil”, recorda Fabio. Ele conta que é possível comprar de colecionadores alguns modelos daquela época, mas não sai barato. “Um Ford GT 40 vai sair por uns mil reais. Já um Alfa Romeo, mais raro, vai custar uns dois paus.”
Sem controle você não é nada
Apesar desses raros e salgados modelos de colecionador, o Autorama não é exatamente uma modalidade de valores exorbitantes. De acordo com Sérgio, um carrinho básico do tipo réplica sai por uns 300 reais no Brasil. Se você comprar na Europa, sai por algo em torno de 40 euros. Porém, você não deve se esquecer da parte mais importante de todas: o controle, que custa em média 500 reais. Sem ele, seu carro, por mais bonito e bem montado que seja, é só um teco de plástico inútil. Tanto que, nos campeonatos, cada um leva o seu. Os botões do controle servem para o domínio do torque e da frenagem do carrinho, mas seu número pode variar muito – há quem use controles com apenas dois botões e competidores que chegam a usar controles com mais de dez deles. Já os carrinho vêm em dois tamanhos (escalas 1:32, maior e mais comum, e 1:24), são basicamente feitos de plástico, pesam em média 64 gramas e seus pequenos motores operam em cerca de 20 mil rpm (rotações por minuto). Tudo isso, claro, quando ficamos no universo das réplicas. No caso do slot car “bolha”, a potência de um carrinho pode chegar a 100 mil rpm e seu motor custar, de acordo com Sérgio, mais de mil reais, enquanto o de um carro réplica, se comprado separadamente, sai em média por 70 reais.
Prodígio
Com um pai tão louco por Autorama que criou um clube e um campeonato para a modalidade, Cassiano Del Grande já nasceu com grandes chances de se tornar um menino prodígio. E foi o que aconteceu. Com 18 anos recém-completados, o filho de Sérgio já venceu o Campeonato Paulista sete vezes. O primeiro com doze anos, o que faz dele o mais jovem campeão da modalidade no estado. Cassiano também já participou de provas no exterior, onde conseguiu um honroso sétimo lugar numa das disputadíssimas provas italianas. Correndo com uma Nissan, ficou em segundo na categoria pro na prova de sábado. “Agora eu posso usar o carro que eu quiser na prova. Antes meu pai não liberava, ficava com ciúmes porque eu era criança e podia quebrar.”

Durante a prova, telas mostram em tempo real os resultados de cada equipe. Posicionados em pontos estratégicos da pista feita de madeira, participantes ajudam a colocar de volta nas fendas os carrinhos que, vira e mexe, se desprendem delas. Como a velocidade dos carrinhos pode ficar entre 50 e 60 km/h (em escala, Sérgio diz que esse valor chega perto de 170 km/h, daí a tal história do Boeing aterrissando, destacada também por outros praticantes), dá para imaginar a habilidade que é preciso ter para executar essa tarefa. E, apesar de todo mundo estar em busca de um bom resultado, o clima predominante é o de tiração de sarro entre amigos. “É para passar por baixo!”, diz um dos participantes quando um dos carrinhos se solta da fenda e se esborracha contra o túnel.

O Campeonato Paulista de réplicas tem mais cinco etapas neste ano. Serão mais três em São Paulo, uma em Mogi Mirim e uma Jundiaí, sempre na “casa” das equipes.

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