16/12/2024

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Lutador saiu da crise em programas com mulheres: “Pegava lindas e ganhava”. Entenda o fato.

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José Ricardo Leite
Do UOL, em Toronto (Canadá).

  • Arquivo Pessoal

A busca por mais uma medalha em Jogos Pan-Americanos, em Toronto, está longe de ser a batalha mais dura já disputada pelo mexicano Juan Angel Escobar. Como muitos em seu país, nasceu lutando contra a pobreza, passou dificuldades, chegou a flertar com a possibilidade de ir para o crime e quase morreu numa briga em uma boate da qual tem cortes até hoje após levar facadas. Foi salvo pela paixão pelo esporte, se agarrou na luta olímpica e se safou dos perigos da vida.

Mas quem disse que o lutador de 27 anos não gosta de emoções? Mesmo depois de se tornar um dos principais nomes do país na luta, passou por uma grave crise financeira em 2007 que acabou forçando-o a ter uma vida dupla pra ganhar dinheiro: teve que fazer shows de striptease e sexo com mulheres para se sustentar. “Era uma vida divertida. Eu pegava mulheres lindas e ganhava coisas caras”, contou, em entrevista ao UOL Esporte.

Angel Escobar sempre foi de família pobre e viveu na cidade de Guadalupe, em Nuevo León, um dos lugares mais violentos do país, como ele mesmo faz questão de dizer. Explica que tomou gosto pela luta para salvar um amigo que sempre arrumava confusão na escola. Vencia as brigas, e isso lhe deu confiança para gostar da fama de valentão. “Fui gostando dessa fama e passei a querer ser o mais temido e admirado pelas garotas do bairro. Queria ter respeito, mas depois que fui para a luta decidi que era outro tipo de coisa que me dava respeito, como as conquistas esportivas mesmo. Eu causei muitas bobagens”, recordou.

Já com 12 anos conquistou o título nacional de sua idade. Evoluiu e se tornou um dos principais nomes do país até a fase profissional. Mas, depois de 2007, quando perdeu a classificação para os Jogos Pan-Americanos do Rio, viu uma sequência de problemas. Perdeu a luta decisiva que daria a vaga e depois sofreu uma lesão no joelho. Foi desclassificado da seletiva nacional para os Jogos Olímpicos de 2008 por um golpe irregular contra um oponente e acabou perdendo patrocinadores no ciclo olímpico. Para piorar, bateu na traseira de um carro em um acidente e teve que arcar com o prejuízo do seu veículo e o da outra pessoa, já que não tinha seguro.

“Perdi os apoios que tinha porque não iria mais para a Olimpíada. Tinha que pagar essa dívida e minha irmã apareceu com essa possibilidade de trabalhar fazendo shows de striptease. Passei a fazer despedidas de solteiras, aniversários e outros tipos de evento. E quando se faz esse serviço, acaba se criando uma clientela. Passei a trabalhar em mais lugares, fazer shows especiais e caros. Tinha boas comissões”, recordou.

Entre 2007 e 2009, Angel passou a ter essa vida dupla para pagar o que devia e conseguir dinheiro pra realizar camp de treinamentos fora do país. A fase como “animador de festas” de mulheres rendeu bons frutos na cidade de Monterrey. Diz que cobrava cerca de US$ 250 (R$ 780) por 40 minutos de shows, feitos mais ou menos quatro vezes por semana. Mas a renda não ficava só nisso. “Isso tudo era além do que eu ganhava por fora, já que tinha clientes que pagavam pra dançar com elas e davam comissões. Algumas chegavam a pagar até US$ 1500 (R$ 4560). Elas davam perfumes, presentes e outras coisas também”, contou.

O mexicano diz que o momento era tão bom que tinha até o poder de “escolher” com quais delas faria sexo depois dos shows, independentemente do valor oferecido. “Não cobrava por isso. Quando aconteciam essas situações, fazia por gosto, não por dinheiro. Se eu cobrasse, qualquer uma poderia querer. Se a mulher fosse bonita e eu gostasse, era diferente. Isso se chama ambição, se quer ganhar dinheiro dessa forma, tudo bem. Mas eu não imaginava que mulheres bem sucedidas, bonitas, de classes sociais, procuravam tanto por isso. Eu só fazia sexo com as que eu gostava. Se eu gostasse e ela tivesse dinheiro. Ia com algumas. Eu era seletivo. Uma forma de que estaria com ela porque gostava.”

O lutador conta que decidiu parar com a vida dupla depois de perceber que sua imagem estava se desgastando por conta disso. Já tinha conseguido pagar a dívida, comprar um carro novo e até reformar a casa. Eis então que uma conversa com um garoto deu um sinal de que tinha que parar.

“Era uma vida dupla que não dava o mesmo resultado no âmbito esportivo. Era uma vida divertida, eu pegava mulheres lindas, ganhava coisas caras.

Mas na parte esportiva não estava rendendo. E uma das outras coisas foi por causa da imagem que eu estava gerando. Sou um esportista, que exemplo estava dando para os garotos? Um dia um deles disse que queria ser igual a mim. Perguntei se pretendia ser esportista, e ele disse que não, que era pela outra vida. Não era o que queria ser visto”, relatou.

O mexicano foi medalha de bronze na categoria até 75 kg dos últimos Jogos Pan-Americanos, em Guadalajara-2011. Já foi duas vezes vice-campeão do pan-americano de luta olímpica e duas vezes campeão da modalidade no Centro-Americano, que reúne países da América Central e do Norte. “Mas  ainda bem que deixei essa vida e hoje me conhecem mais por conta dos resultados internacionais na luta do que por isso. Valeu a pena deixar de ganhar dinheiro fácil nessa vida de diversão por uma vida de glórias”, finalizou.

Juan Ángel, apesar de deixar a vida dos shows, ainda “está na pista”. Questionado se é casado e tem filhos, responde. “Estou casado só com a luta mesmo.”

Arquivo Pessoal

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