Reforço do Valencia foi segurança de musa global, jogou bola com sertanejo e não quer intimidade com CR7.
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Francisco De Laurentiis e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br.

Você talvez não conheça Aderlan Leandro de Jesus Santos, mas, provavelmente, vai ouvir falar muito dele nos próximos tempos – para o bem e para o mal.
O zagueiro de 26 anos foi anunciado na última quinta-feira como novo reforço do Valencia, equipe que voltará a disputar a Uefa Champions League nesta temporada. Destaque do Braga, de Portugal, desde 2012, o brasileiro chega com contrato até 2020, e, logo em seu primeiro treino, impressionou pela “grande intensidade”.
Essa é a marca desse pernambucano de Salgueiro, em pleno Agreste do Estado, que já foi de tudo nessa vida antes de vingar como jogador, como mototaxista e servente de pedreiro. No entanto, seu grande destaque pré-futebol foi como segurança de micaretas, emprego no qual faturava R$ 10 por até 12h trabalhadas.
“Meu padrasto me colocou numa empresa de segurança dele por uns anos. Tenho 1,93m, mas era da ‘turma do deixa disso’ (risos). Fiz segurança de muito trio elétrico, ficava segurando a corda e não era fácil, bem pior que marcar atacante (risos). O complicado era separar briga e aguentar gente bêbada, tinha muito bêbado chato, você não imagina”, conta o beque, em entrevista aoESPN.com.br.
Um dos episódios peculiares pelos quais passou em sua carreira como segurança envolveu uma artista da TV Globo, e quase terminou em confusão.
“Teve um evento da Consciência Negra perto de Salgueiro que foram vários famosos, e lidar com eles é complicado, porque alguns ‘se acham’. Quando artista vai para interior, fica ainda mais chato. E tinha a dona do evento, que era a mais chata (risos)! Eu estava de segurança do camarote e todo mundo ficava pedindo para tirar foto, mas não podia. Eu tinha uma instrução de não deixar ninguém entrar e importunar os famosos”, lembra.
Naquele dia, Aderlan estava responsável pelo camarim da atriz Sheron Menezes, que atualmente interpreta a advogada Paula na novela “Babilônia. Em dado momento, a tal dona do evento deu “carteirada” e entrou na área reservada. Era hora do segurança trabalhar.
“Ela chegou achando que já era conhecida e jé me deu a câmera pra tirar foto. Aí a Sheron falou: ‘E quem falou que eu quero tirar foto com você?’. Rapaz, na hora me segurei pra não rir (risos). A mulher deu chilique: ‘Mas eu sou a organizadora!’, e a Sheron nem deu bola. Entrei em ação e falei que ela tinha que sair dali, porque estava importunando as artistas: ‘A senhora está incomodando a Sheron, e ela não pode ficar estressada’, e a tirei do camarim. Meu amigo, a mulher ficou doida!”, narra.
Revoltada, a organizadora reclamou com o padastro de Aderlan, chamando o rapaz que havia lhe expulsado da própria festa de “abusado”. O hoje zagueiro argumentou que estava apenas seguindo as ordens que foram dadas, mas não teve jeito…
“Resultado de tudo isso: ele nunca mais me colocou como segurança (risos)”, gargalha.
Mas a carreira do pernambucano no mundo das micaretas, que também passou por eventos com famosos e shows de bandas como Calypso, ainda teve bons momentos.

“Teve uma festa que conheci um ator, não vou falar o nome, mas que era muito gente fina e humilde, me tratou super bem. Conversava com todo mundo, não tinha problemas com ninguém. Ele ‘pegou’ uma menina e eu até arrumei uma salinha para ele ficar mais à vontade com ela (risos)”, diverte-se.
“Também já bati bola com o cantor Leonardo, que é um cara gente fina demais. Eu estava fazendo segurança do show dele e o cara jogou com a gente. Em todo lugar que ele vai aproveita para disputar uma pelada, manda bem até! Mas aliviei na zaga pra ele”, afirma.
Como taxista, porém, Aderlan foi um fracasso.
“Uma vez peguei uma moto emprestada, só que mostrador de gasolina estava quebrado, os caras sabiam quanto tempo durava o combustível, só que eu não sabia. Então, no meio de uma corrida, como era de se esperar, a gasolina acabou (risos). Eu falei para a mulher: ‘Infelizmente, a senhora vai ter que seguir a pé’. E eu levei a moto uma meia hora no braço até um posto de gasolina (risos)”, sorri.
Saindo no tapa em Portugal
Alto quando moleque, Aderlan sempre gostou de jogar bola. Pelo estilo firme na zaga, destacava-se em equipes de Salgueiro e região, e era alvo da cobiça de empresários desde a juventude. Mas não passavam de “picaretas”, segundo ele.
“Prometiam que iam me levar para a Europa, até para o Real Madrid B, essas coisas. Falaram isso tantas vezes que até perdi a conta, mas eram um monte de ‘picaretas’. Acabei até desencanando uma época de tentar ser jogador, e comecei a ficar desconfiado de todo empresário que chegava em mim”, recorda.
Sua carreira começou no Salgueiro, clube no qual não chegou a se firmar. Após um período por empréstimo no Araripina, recebeu proposta para fazer um teste no pequeno Trofense, de Portugal. Resolveu encarar e se mandou para a “Terrinha”.
“Eu tinha uns 20 anos, fui com a cara e a coragem. No primeiro coletivo, mostrei meu cartão de vistas dando uma porrada logo no melhor jogador da história dos caras, acho que até hoje ele sente dor (risos). Depois, dei uma chegada em um brasileiro e joguei na bandeirinha de escanteio. Ele reclamou: ‘Porra, sou brasileiro também!’. E eu respondi: ‘Mas você já tem contrato, eu não (risos)’. No terceiro dia, fui aprovado”, conta.
Após dois anos no Trofense, que atualmente está na 3ª divisão lusa, Aderlan foi contratado em 2012 pelo Braga, equipe da elite, mas inicialmente foi colocado para jogar no time B. Após um ano na Segundona, foi promovido ao elenco principal e, em março de 2013, fez sua estreia na elite, jogando os 90 minutos de uma vitória por 2 a 0 sobre Marítimo. Depois disso, nunca mais saiu dos titulares.

Em Portugal, o brasileiro ficou com fama de “durão”, principalmente por não “afinar” para o maior goleador da liga nos últimos anos, o colombiano Jackson Martínez, que recentemente trocou o Porto pelo Atlético de Madri. A relação entre o zagueiro e o centroavante, aliás, foi marcada por inúmeros conflitos.
“Rapaz, o Jackson não gosta mim, não (risos). Toda vez que nos encontramos, a porrada come, porque ele tem dificuldade comigo. Em cinco vezes que nos enfrentamos, eles só fez dois gols, e não foram do meu lado. Na final da Taça da Liga de 2013, que ganhamos do Porto, ele mal pegou na bola, joguei bem naquele dia e o anulei. Quando eu vejo o cara, parece que eu cresço, não sei o que acontece. Ali o bicho pega!”, garante.
Os dois, inclusive, já chegaram às vias de fato.
“Ele joga muito, é o jogador mais forte que marquei na minha vida, de tomar tapa na cara, minha Nossa Senhora (risos). Quando ele dá uma porrada em cima, eu dou embaixo, principalmente quando o juiz não está vendo (risos). E você acredita que ele é evangélico e não xinga! Mas bater pode, né (risos)?”, diverte-se.
Odiado pelos centroavantes, Aderlan assegura: nunca trocará camisa com um atacante, nem mesmo com Cristiano Ronaldo. Muito menos com Jackson Martínez…
“Uma vez, um amigo meu pediu uma camisa do Martínez e eu disse: ‘Nem tem como, porque ele nem fala comigo (risos)!’. Mas eu sou assim, não troco camisa com atacante nenhum, nem com o Cristiano Ronaldo, não vou pedir. Sou zagueiro, porra! Que respeito que eu vou impor ao atacante se depois que o cara fizer dois ou três gols em cima de mim eu ainda for lá pedir: ‘Por favor, me dá sua camisa?'”, argumenta.
Como Jackson Martínez agora está no Atlético de Madri, o reencontro entre os “amigos” já tem data pra acontecer: 25 de outubro, no Vicente Calderón, em Madri.
Vai sair faísca!