01/02/2025

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SP mandou namorada de Aidar, e não cartolas, em negociação de Rodrigo Caio

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Guilherme Palenzuela e Pedro Lopes Do UOL, em São Paulo.

  • André Lucas Almeida/Futura Press/Folhapress

Algo que foi negado durante meses dentro do São Paulo agora está confirmado: Cinira Maturana da Silva, namorada do ex-presidente renunciante Carlos Miguel Aidar, esteve na Espanha e acompanhou as negociações fracassadas do zagueiro Rodrigo Caio com Valencia e Atlético de Madri, em 2015. Na ocasião, o clube não enviou nenhum representante da diretoria; não foi o vice Ataíde Gil Guerreiro, o diretor Rubens Moreno ou mesmo o então CEO Alexandre Bourgeois. Além do advogado Alexandre Pássaro, Cinira foi a única pessoa ligada à direção são paulina na comitiva.

O UOL Esporte obteve um e-mail de autoria de Maturana, além de depoimentos que mostram que a companheira do ex-presidente acompanhou de perto o andamento das negociações. Segundo Gil Guerreiro, em depoimento ao comitê de ética do clube, Cinira ainda teria tido a hospedagem em Madri paga pelo São Paulo. A viagem foi mais um episódio em uma série de polêmicas envolvendo a namorada de Aidar, que incluíram um contrato de comissão de 20% sobre negócios levados ao clube e participações em negociações de patrocínio. Os fatos serão subsídios para reunião do conselho deliberativo na noite desta segunda, que decidirá se expulsa ou não Carlos Miguel Aidar de seus quadros.

Procurada pela reportagem, Cinira Maturana não quis se manifestar.

Cinira foi a Barcelona, depois a Madri

Em 29 de junho de 2015, Rodrigo Caio esteve em Barcelona para se consultar com o médico Ramon Cugat depois de discordâncias em relação ao primeiro exame médico feito pelo Valencia. Além do empecilho médico, o atleta já tinha dúvidas sobre o negócio porque enxergava diferenças contratuais entre o proposto e o apresentado pelo clube espanhol. Cinira Maturana, então, que passava férias em Mallorca, na Espanha, viajou para Barcelona a pedido de Aidar para encontrar a comitiva da negociação.

Fizeram parte da comitiva, além de Rodrigo Caio: os ex-jogadores Deco e Luizão, representantes do português Jorge Mendes e então empresários do atleta; o advogado e o irmão do jogador, Régis Villas Bôas e Rafael Coquette, respectivamente; e o advogado do São Paulo, Alexandre Pássaro, além de Cinira Maturana. Durante a tarde do mesmo dia 29 de junho, Rodrigo Caio já havia desistido da negociação com o Valencia e cancelou a transferência que poderia chegar a 15 milhões de euros.

Surgiu, então, o interesse do Atlético de Madri, e os empresários do jogador fretaram um voo de Barcelona a Madri para toda a comitiva, incluindo Cinira Maturana, que embarcou no mesmo avião. O relato do acompanhamento da negociação segue no e-mail a seguir, de autoria de Cinira e endereçado ao então presidente Carlos Miguel Aidar:

“De: Cinira Maturana [mailto:xxxxxxxxx@gmail.com] Enviada em: segunda-feira, 29 de junho de 2015 19:55
Para: Carlos Miguel C. Aidar
Assunto: Relatório Rodrigo Caio

Carlos Miguel,

Estamos chegamos em Madri.
Rodrigo Caio, o irmão Rafael, Régis (advogado), Alexandre Pássaro, Deco e Luizão.
O dia foi tenso, Alexandre está de parabéns, fez um trabalho hercúleo de administrar o Régis que é uma pessoa difícil de tratar porque se acha entendedor de direito esportivo e direito internacional, mas fala muita bobagem e influencia negativamente o Rodrigo que está refém dele por acreditar que ele (Régis) está cuidando dos seus interesses no papel de um pai e o Régis se achando uma estrela. Se se faz uma pergunta ao Rodrigo, ele (Régis) responde sem esperar o atleta se manifestar.

Não é do ramo.
Deco, uma pessoa sensata, equilibrado, sem estrelismo e com boa visão da situação do atleta física, quer ajudar e não me pareceu agir de má fé.
Luizão é muito paciente com o Régis e aparentemente com a família do atleta, também quer ajudar.
Rafael, irmão, não tem voz e não acrescenta, mas também não atrapalha.
Resumo da ópera:
O problema se resume ao Régis. Esse sim, deve ser administrado”

Procurado pelo UOL Esporte após a obtenção do e-mail, Rodrigo Caio confirmou via assessoria de imprensa pessoal que esteve com Cinira Maturana durante a viagem, mas disse que “não teve muito contato” com ela. O advogado do jogador, Régis Villas Bôas, reforçou que a namorada de Aidar esteve também no voo fretado: “O que é mais difícil explicar é por que ela esteve no voo fretado de Barcelona para Madri. Isso eu confirmo. Só não a vi atuando em negociação”.
O advogado Alexandre Pássaro confirmou via assessoria de imprensa do São Paulo que Cinira esteve em Madri com a comitiva da negociação, mas disse que não pode afirmar que ela teve participação nas negociações.
Luizão, um dos ex-empresários de Rodrigo Caio – o atleta rompeu com os agentes após os episódios na Espanha –, também confirmou ao UOL Esporte a presença de Cinira na Espanha e disse que ela foi recrutada pelo São Paulo para convencer Rodrigo Caio a assinar com o Valencia. O ex-atacante também admite que a namorada de Aidar esteve no voo fretado da comitiva entre Barcelona e Madri.

“Ela não estava acompanhando a negociação. Ela estava em viagem na Espanha. Como o Rodrigo Caio não quis assinar o contrato com o Valencia, estava melando o negócio e o São Paulo precisando de dinheiro, ela foi tentar convencer o Rodrigo Caio a pedido do próprio São Paulo. Ela não interferiu em nada, a negociação já estava fechada com os clubes”, falou Luizão. “Ela foi [no voo fretado] porque o Atlético queria entrar na negociação por empréstimo, mas ela não participou de nenhuma negociação. Quem fazia negociação éramos eu, Deco e Jorge [Mendes]”, completou.

Entre julho de 2015 até a publicação desta matéria, outras sete pessoas entre dirigentes e funcionários do São Paulo, que preferem não se identificar, relataram à reportagem que Cinira Maturana acompanhou a negociação na Espanha.

Ataíde: Cinira teve hospedagem em Madri paga pelo SP

A comitiva chegou a Madri no mesmo dia 29 de junho e, no dia 30, aconteceu a primeira negociação entre São Paulo e Atlético de Madri. O clube espanhol fez uma proposta de empréstimo pelo zagueiro com opção de compra ao final do contrato que poderia render 12 milhões de euros. Cinira Maturana não participou de reuniões com os espanhóis.

No início de 2016, passada à renúncia de Carlos Miguel Aidar após a perda da base aliada por denúncias de supostos desvios de dinheiro no clube, Ataíde Gil Guerreiro afirmou em depoimento no processo que corre no comitê de ética do clube que Cinira Maturana não só acompanhou a comitiva da negociação de Rodrigo Caio na Espanha como também teve a hospedagem em Madri paga pelo São Paulo.

Segundo apurou a reportagem, o ex-vice de futebol afirmou ao comitê de ética que o advogado do clube, Alexandre Pássaro, apresentou a prestação de contas referente à viagem citando o pagamento para uma noite de hospedagem em dois quartos no Hotel Monte Real, entre 29 e 30 de junho. Gil Guerreiro disse em depoimento que os quartos foram ocupados por Pássaro e Cinira Maturana.

O UOL Esporte obteve o e-mail de confirmação das reservas no Hotel Monte Real, em Madri, feitas por um funcionário do São Paulo no início da tarde do dia 29, quando o interesse do Atlético surgiu e a comitiva da negociação decidiu fretar um voo de Barcelona para Madri. As reservas mostram o pedido por dois quartos, sendo que o São Paulo tinha apenas Alexandre Pássaro como funcionário do clube na comitiva:

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