Camisas ‘cópias’ de europeus da Nike enfurecem clubes
4 min readPor Marcus Alves, do ESPN.com.br.
Qual a relação entre Bahia, Freiburg e FC Zürich? A princípio, nenhuma. Coritiba e Celtic, então? Nada. O mesmo se repete também com Inter e Mainz 05. Eles estão, ainda assim, mais interligados do que se imagina em uma controvérsia que estremece a relação dos brasileiros com a Nike e pode fazer com que a poderosa marca americana tenha um de seus contratos de fornecimento de material esportivo rescindido em ano de Copa.
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O conflito todo tem a ver com o desgaste provocado pela estratégia da empresa de basear os seus uniformes em equipes europeias (veja abaixo).
Até pouco tempo atrás, a discussão em torno do tratamento e da falta de um design exclusivo se restringia aos torcedores. Mais recentemente, no entanto, ela chegou também aos times como fruto da insatisfação que vem de outros problemas de logística.
“É o estilão deles”, resume um dirigente do Coritiba ao ESPN.com.br.
Ele não está sozinho. Somente no fim do ano passado, representantes da Nike tiveram mais de cinco reuniões presenciais ou não com membros da nova diretoria do Bahia para tentar aparar as arestas. Em uma delas, chegou a ser proposto o fim do contrato que vai até dezembro de 2015, mas a diretoria tricolor recuou naquele momento após a exigência do pagamento da multa de R$ 2 milhões.
A alternativa voltou a ser considerada.
Um novo encontro entre as partes deve acontecer até a semana que vem para selar de vez a situação. Em caso de nova discordância em torno de pontos que passam pelo modelo de camisas copiado dos europeus, a distribuição falha e a promessa não cumprida da construção de uma loja física, o acordo poderá ser encerrado.
Com uma proposta da Adidas na mesa, a direção do clube se encontra agora em situação confortável para barganhar – dois funcionários da companhia chegaram a ser mandados embora depois do vazamento de um dos uniformes.
A possível perda para a sua principal concorrente frustraria os planos desenhados pela Nike ainda em 2011 e concretizados em dezembro daquele ano com o anúncio de Coritiba, Inter, Bahia e Santos como novos patrocinados. A marca assegurava uma posição estratégica nas sedes da Copa do Mundo e ‘roubava’ para si um pouco do espaço de sua rival alemã. Essa não é a primeira vez que ela se vê ameaçada no mercado.
No fim do ano passado, a Adidas chegou a negociar também com o Santos, porém, uma conversa com o novo departamento de marketing alvinegro garantiu a manutenção do vínculo. Desde então, o diálogo entre os dois lados é semanal, afirmam.
“Temos que tentar melhorar antes de romper. Foi bom para todos. É uma relação que depende de ambos os lados. Eles estão num negócio porque é bom para eles. Não podemos ser ingênuos e acreditar que eles estão aqui porque amam o clube. É claro que a gente tem que observar o aspecto da grife, mas não adianta fechar com um fornecedor que o torcedor não goste”, afirma o gerente de marketing santista Fernando Montanha.
Por contrato, a Nike é responsável pelas operações de Corinthians e Inter enquanto Santos, Coritiba e Bahia ficam a cargo da Netshoes, que encaminha os produtos e gerencia as vendas com os pontos comerciais. Nem mesmo essa divisão livrou o clube colorado de enfrentar o mesmo problema das demais equipes, entretanto.
“Fechamos contrato com eles e sabíamos que teríamos essas dificuldades normais vindo do fim de uma parceria de mais de seis anos. Talvez com os outros tenha pesado também esse fator (de serem da Netshoes), mas não tenho o que falar a respeito do serviço”, diz o diretor executivo de marketing do Inter, Jorge Avancini.
Nos bastidores, cartolas acusam a Nike de ter dado ‘um passo maior que a perna’ e fazer ‘reserva de mercado’ com os acordos. A falta de interesse dos torcedores em um uniforme criado a partir de outra equipe, prosseguem, também é sentida financeiramente na perda dos royaltes de participação nas vendas.
Procurada pela reportagem do ESPN.com.br, a Nike respondeu através de sua assessoria de imprensa que não se pronunciaria sobre o assunto.