19/04/2024

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Pedro Pereira por espn.com.br

Mago, maestro, ritmista. Desde seu surgimento no futebol, Philippe Coutinho sempre se destacou por sua técnica apurada e ótima qualidade de passe, credenciando-o como um dos melhores jogadores do mundo na atualidade.

Como, então, mesmo com tantas qualidades, seria possível que um time se beneficiaria com a saída do brasileiro? A lógica pode não explicar, mas o motivo da melhora do Liverpool após o adeus de Coutinho tem nome e sobrenome: Jurgen Klopp.

Taticamente, existem diversos motivos que fazem a saída de Coutinho ter alavancado o desempenho do Liverpool, aproximando a maneira com que joga o time inglês aos ótimos anos de Klopp no Borussia Dortmund.

Primeiramente, o dinamismo no meio-de-campo: dizer que as equipes de Klopp tem aversão à posse de bola seria um exagero, porém, a rápida e objetiva troca de passes, que gera grande verticalidade no setor ofensivo, sempre foi a principal arma do treinador.

Nos seus melhores momentos na Alemanha, suas equipes não contavam com meias de um estilo mais clássico, que procuravam cadenciar partidas, como faz Coutinho. Opostamente, nomes como Ilkay Gundogan, Nuri Sahin, Shinji Kagawa e Mario Gotze tinham a característica de livrar-se rapidamente da bola, buscando constantemente o chamado ”último passe”, gerando grande volume de chances de gol e a capacidade de ganhar partidas nas quais o Dortmund jogava pior que o adversário.

Veja a similaridade no novo estilo de jogo do Liverpool no vídeo abaixo.

Os números indicam a mudança: Na temporada em que chegou na final da Champions League, a de 2012/13, a média de posse de bola do Borussia Dortmund era de apenas 52%. Muito menos do que os 62% de posse mantida pelo Liverpool em 2016/17, quando a bola passava grande parte do jogo nos pés do antigo camisa 10. A agressividade e urgência no setor ofensivo são fundamentais para o bom andamento do ”novo” plano de jogo.

O treinador alemão considera o 4-3-3 ideal para os Reds. Com Coutinho, entretanto, o comandante vivia um dilema: colocá-lo como titular ao lado de Firmino, Salah e Mané e prejudicar a funcionalidade do esquema ou respeitar a formação tática e abrir mão de um dos quatro entre os 11 iniciais? Klopp variou nestas decisões, mas considerava a presença de Coutinho, maior ídolo do clube na época, indispensável.

O comandante, porém, teve que tomar o que parecia ser uma grande decisão durante a última janela de inverno. Ao identificar que o único setor em que Coutinho seria eficiente era a ponta-esquerda, Klopp não viu como grande a possibilidade de uma queda de rendimento da equipe, e considerava Mané totalmente apto para fazer o trabalho à altura. Inclusive, todos os atuais titulares do Liverpool possuem mais vigor físico que o atleta da seleção brasileira, tornando os contra-ataques cada vez mais mortais, apesar da perda em qualidade de passe.

Divisão de responsabilidades na criação: Levando sua proficiência com a bola nos pés em consideração, é normal que a tendência de uma equipe que conta com Coutinho seja concentrar a criação de jogadas e a transição entre defesa e ataque ‘nas costas’ do meia revelado pelo Vasco. Com essa estratégia, inclusive, o Liverpool teve relativo sucesso. Durante seu período na Inglaterra na temporada 2017/18, por exemplo, ninguém criou mais chances ou deu mais assistências que o brasileiro na Premier League.

Salah, Mané e Firmino dividiram toda essa responsabilidade. Com isso, aliás, o Liverpool se torna muito mais imprevisível no último terço do campo. Apesar da qualidade de Coutinho, era possível armar uma estratégia para limitar as ações do brasileiro, mas por não estar em campo, abre a possibilidade de qualquer um do trio de ataque aparecer em qualquer setor do gramado, dificultando (e muito) a marcação do time rival.

Defensivamente: sua presença entre os titulares feria a intensidade da marcação no setor de meio-de-campo. Apesar de ser original do futsal, fato que o fez desenvolver a capacidade de ”dar o bote”, Coutinho nunca havia ocupado a mesma faixa do campo em relação à que teve que atuar nesta temporada em Liverpool.

Com isso, sua falta de experiência na posição afetava diretamente sua equipe. Sua ausência deu espaço para Oxlade-Chamberlain, recém-chegado do Arsenal, apresentar discutivelmente o melhor futebol de toda sua carreira e suprir as necessidades que surgiram.

Seus chutes de longa distância também não fazem mais falta: desde sua saída, o Liverpool vem chutando menos bolas ao gol, e também tentam menos arremates de fora da área – uma média de 6, comparada às 7.1 na época de Coutinho.

Entretanto, a eficiência destes chutes aumentou. 21.6% das tentativas acertam o alvo, ao invés dos 17.4% na época de Coutinho, mostrando que o time vem criando melhores chances, gerando mais gols e ganhando mais jogos desde a virada do ano.

Não deixe a brilhante temporada de Salah distorcer o verdadeiro motivo do sucesso do Liverpool: o jogo coletivo, que apenas cresceu com a saída de Coutinho. Evidentemente, grande parte dos bons resultados vieram diretamente dos pés do egípcio, mas o melhor funcionamento da ”engrenagem” da esquadra, apesar das adversidades, é algo para ser lembrado por muitos anos.

Não sabemos o destino dos Reds caso Coutinho não tivesse se transferido ao Barcelona, nos cabe apenas apreciar o resultado alcançado e aproveitar cada espetáculo promovido pela nova versão da equipe.

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