29/03/2024

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Laterais, escanteios e até cartões, máfia do futebol ‘controla’ tudo no futebol; confira.

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Rafael Valente, de São Paulo (SP), para o ESPN.com.br

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Operação ‘Game Over’: Delegado explica como funcionava esquema de manipulação de resultados

Não são apenas os resultados das partidas no Brasil que são manipulados pela máfia de apostadores, numa operação que foi batizada como “Game Over”. Em muitos casos, a fraude não estava ligada diretamente com o placar. Envolvia situações até banais de um jogo. Por exemplo, acertar a equipe que cobraria o primeiro lateral ou escanteio.

Pelo menos esses são relatos que os envolvidos nas denúncias e na investigação têm ouvido de dirigentes, treinadores e jogadores, segundo apurou o ESPN.com.br.

Segundo pessoas que tiveram acesso aos depoimentos, a diversificação da atuação da máfia de apostadores dificulta a investigação conduzida pela 5ª Delegacia de Polícia de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), em São Paulo

Isso porque em muitos dos jogos em que ocorreu corrupção a manipulação envolveu apenas situações de jogo, como as citadas acima, e que são bem mais complexas para serem identificadas. Ou seja, a manipulação está nos detalhes dos confrontos.

Há apostas envolvendo cartões amarelos e/ou vermelhos – o vencedor é quem acertar primeiro a equipe que foi punida, por exemplo. Os tipos de gols: falta, pênalti etc.

“Temos várias denúncias, mas há uma dificuldade em mapear tudo porque a máfia não manipulava apenas os resultados. Manipulavam situações do futebol, como um lateral, um escanteio ou fazer um gol nos primeiros minutos do jogo ou nos instantes finais. A investigação leva tudo isso em conta”, explicou à reportagem Mauro Marcelo de Lima e Silva, presidente do TJD (Tribunal de Justiça Desportiva) de São Paulo.

Os casos que pautaram as prisões nessa primeira fase da operação “Game Over” foram exatamente de resultados manipulados. Ainda assim com um grau de complexidade, pois havia situações em que combinavam a quantidade de gols que equipe deveria sofrer em determinada fase do jogo (por exemplo, três gols nos últimos 15 minutos).

“Não precisa de todo o clube [para a manipulação[, mas de uma quantidade mínima de jogadores. Bastando que o técnico e alguns jogadores atuem de forma pré-coordenada. Há casos de possível participação da estrutura inteira do time”, disse o delegado da Polícia Civil, Mário Sérgio de Oliveira Pinto, na última quinta-feira, sobre o tema.

“Tudo será analisado e o TJD poderá punir jogadores, dirigentes e clubes que estiverem envolvidos nesse esquema de manipulação”, afirmou Silva.

ESPN.COM.BR

Operação Game Over Coletiva 2
Coletiva dos delegados que investigam a Operação Game 

Em março deste ano, o jornal “Diário de S.Paulo” divulgou com exclusividade que jogadores do Barueri receberam proposta de US$ 25 mil para que o time perdesse por mais de três gols para o Rio Preto pela Série A-3 do Paulista deste ano. A equipe foi derrotada por 4 a 0, tendo levado o último gol a sete minutos do final, em uma penalidade cometida pelo zagueiro Gustavo Martino.

Pouco depois, seis clubes do interior paulistas admitiram à “Folha de S.Paulo” que tiveram jogadores sondados para que suas equipes perdessem jogos favorecendo apostadores. A reportagem informou que dirigentes e jogadores dessas equipes foram procurados desde 2015 para que forjassem resultados em troca de dinheiro.

A operação “Game Over” prendeu oito pessoas até agora. Um deles é Márcio Souza, 36, suspeito de ser um dos sub-chefes do esquema. Também foram detidos Carlos Henrique Franco Luna, 33, ex-goleiro do América-SP, dois homens em Bauru, um em Sorocaba, um no Rio de Janeiro e outro em Maracanaú (CE).

O suspeito de ser o líder da quadrilha (Anderson Silva Rodrigues) ainda não foi preso. Segundo a Drade, ele fica no Rio de Janeiro e é procurado.

RAFAEL VALENTE

Polícia expediu sete mandatos
Polícia expediu sete mandatos

R$ 160 MIL PARA COMPRAR RESULTADOS

Um dos documentos da investigação detalha como é feita a abordagem da máfia de apostadores, inclusive com o valor oferecido: R$ 160 mil, em dinheiro.

A reportagem teve acesso ao documento de quase 20 páginas que registra vários detalhes. O relatório é baseado em um depoimento prestado pelo presidente do América-SP, José Carlos Pereira Neto, no qual ele revela uma tentativa de ser ‘comprado’ por um ‘abutre’, como ele chama o homem que o abordou no ano passado.

De acordo com o relato, primeiro um homem de nome Edmílson se apresentou como “interessado por alguns jogadores” do América-SP, como se fosse um empresário ligado ao mercado de futebol da Ásia.

Após um tempo conversando, o dirigente do América-SP relatou que o homem informou trabalhar “para um grupo de de apostas online”. E então faz a proposta para que o time rubro perdesse um jogo para beneficiar uma rede de apostadores. O homem justifica a escolha do América-SP: “é um clube conhecido lá fora e de tradição”.

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Bertozzi traz o noticiário policial do esporte nesta quarta e cobra responsabilidade de Messi; veja

O resultado pedido é que o América-SP perdesse para o Vocem – a data da partida não é mencionada no depoimento. Além disso, exigia que “o América-SP deve perder por dois ou três gols de diferença e os gols devem ocorrer entre os 20 e 25 minutos do primeiro tempo”.

O América-SP perdeu os dois jogos contra o Vocem na Segunda Divisão do Paulista (que na prática é a quarta). Primeiro por 3 a 1, em casa, e depois por 4 a 1, fora de casa. Mas o presidente do clube negou o acerto.

“Como vou vender o resultado se precisamos ganhar para classificar”, disse Neto, segundo relato que consta no documento.

O caso do América-SP é um dos investigados. Há outros envolvendo clubes das Séries A2 e A3 do Paulista, além da Segunda Divisão. Também há suspeitas em torneios de primeira divisão do Nordeste, além de divisões inferiores no Rio de Janeiro..

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