Atleta talentoso, Fidel fez Cuba ser potência esportiva, mas pecou em mantê-la no topo.
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Igor Resende, do ESPN.com.br

Aos 90 anos de idade, Fidel Castro morreu na noite desta sexta-feira. Amado ou odiado, ele foi revolucionário. E revolucionou Cuba – e o mundo – não só na política, mas também no esporte.
Os números mostram isso. Cuba havia ganhado medalhas de ouro nas duas primeiras Olimpíadas da era moderna – uma em 1900 e quatro em 1904. Depois, intercalou ausências com Jogos sem quaisquer conquistas.

Até Fidel Castro tomar o poder.
Alinhado com o lado socialista do mundo, o comandante rapidamente percebeu que poderia fazer do esporte uma de suas principais bandeiras. E, apenas dois anos após a revolução, criou o Instituto Nacional de Esporte, Educação Física e Recreação.
A premissa era simples: o esporte era um direito humano e não apenas dos ricos. Antes apenas quem tinha dinheiro poderia ter tempo para praticar uma atividade física. Com Fidel, essas atividades eram praticamente obrigatórias a todos.
Cinco modalidades passaram até a integrar o cronograma escolar: atletismo, basquete, beisebol, ginástica e vôlei. Fidel defendia que o talento esportivo vinha com trabalho duro. E, claro, toda uma estrutura foi criada para que todos tivessem boas condições de treino e para que depois os melhores pudessem ser ‘filtrados’ e levados para centros ainda mais especializados.

O resultado, claro, não foi imediato. Mas veio. Cuba voltou a ganhar medalhas de ouro na Olimpíada de 1972 e nunca mais parou. Nos Jogos de Moscou, em 1980, ficou em quarto lugar na classificação geral. E em Barcelona, 1992, foi quinta com um recorde local de 14 ouros.
Pode até não parecer tanto, mas Cuba é um país de 11,4 milhões de pessoas atualmente. Menos que a cidade de São Paulo, por exemplo.
A política, porém, acabou sendo a grande responsável também para que Cuba não conseguisse se manter tão no topo por mais tempo.
Como parte do cronograma socialista, Fidel aboliu a prática profissional de esporte no país desde que assumiu o poder. E isso passou a ser um enorme problema somado às dificuldades econômicas geradas pelo bloqueio dos EUA ao país.
Principalmente a partir da década de 90, o mundo passou a crescer muito mais que Cuba. E qualquer esportista tinha muito mais chance de ganhar dinheiro desertando o país e buscando ligas profissionais em outros lugares. Todas as modalidades perderam grandes nomes e, como Fidel proibia que esses desertores defendessem Cuba nas Olimpíadas, o desempenho geral despencou.
Cuba nunca deixou de ser uma competidora importante, mas também não figura mais entre os dez melhores do esporte desde 2000, quando foi a nona colocada no quadro de medalhas de Sydney.
Hoje, há cubanos importantíssimos espalhados pelo mundo, como Yoenis Céspedes, Aroldis Chapman, José Abreu no beisebol e Leal, Simón e León no vôlei. Joel Casamayor, grande rival de Popô no boxe, também era cubano. Isso sem contar todos que são herdeiros de cubanos, como os irmãos Brook e Robin Lopez no basquete e Ryan Lochte na natação.
- Um atleta talentoso

É claro que todo o investimento tinha todo um pano político por trás. Mas também é inegável que Fidel Castro era um amante incondicional dos esportes.
Mais que isso: chegou a ser um atleta até que bastante talentoso.
Há até algumas lendas de que Fidel chegou a ser sondado para jogar na MLB, a liga de beisebol dos Estados Unidos. Há histórias de que alguns observadores foram até Cuba para vê-lo jogando durante o colegial e ficaram para lá de impressionados com seu arremesso de bola curva.
E a lenda tem seu fundo de verdade. Alguns olheiros de fato o observaram e até aprovaram o arremesso de bola curva, mas desaprovaram a bola rápida. E, claro, Fidel não aceitaria jogar nos EUA.
Fidel era mesmo um apaixonado por beisebol, mas a verdade é que ele era um multi-atleta, disputava várias modalidades. Ele mesmo admite que mal estudou enquanto estava no Colégio de Belén, no ensino médio, porque só focava em disputar esportes. Depois, na Universidade de Havana, chegou a jogar basquete antes de abraçar de vez a carreira política.
Fidel chegou até a se arriscar no futebol. “Era atacante, corria bastante. Foi na quinta série que eu comecei‚ no colégio Dolores, em Santiago de Cuba, em um pátio de cimento, e a bola não era como as de agora. O futebol me ajudou a ter vontade, a exercer minha capacidade de resistência física, me deu prazer, satisfação, espírito de luta e competição”, disse em uma entrevista.