Guto Ferreira foi um dos responsáveis pelo acesso do Bahia à Série A
Guto Ferreira foi um dos responsáveis pelo acesso do Bahia à Série A

“Parece até maldição. Precisamos amadurecer como clube. O dinheiro vai ser consumido, sim, e nem sempre como queremos”, afirmou o diretor administrativo-financeiro Marcelo Barros em reunião recente do Conselho Deliberativo do Bahia.

O desabafo acompanhado de sorriso e realizado de forma descontraída foi feito após repetidas perguntas sobre o destino dos R$ 40 milhões em luvas recebidas pela diretoria tricolor em março de 2016 após assinar contrato com o Esporte Interativo na TV fechada entre 2019 e 2024 no Brasileiro. Didático, Barros explicou em cada detalhe como o dinheiro foi utilizado (veja mais abaixo).

Pairava até pouco tempo atrás a sensação de que o Bahia havia ficado rico. Não ficou.

A sua cúpula se reuniu por Robinho, sondou Diego Souza e desembolsou R$ 900 mil mensais pelo trio Hernane Brocador, Renato Cajá e Thiago Ribeiro ao longo de 2016 e agora terá de superar a pressão por resultados em campo em sequência decisiva de quatro Ba-Vis.

O primeiro deles nesta quinta-feira, às 20h30 (de Brasília), no Barradão, em confronto de ida das semifinais da Copa do Nordeste.

No domingo, será disputada a volta na Arena Fonte Nova enquanto que, na próxima semana, a briga será pelo título estadual.

A série de clássicos acontece uma semana após o clube recorrer ao Conselho Deliberativo para pedir autorização para empréstimos de até R$ 17 milhões.

Com os contratos com a Globo como garantia, o principal objetivo é concluir a negociação para aumentar o seu patrimônio e reaver o centro de treinamento do Fazendão e adquirir a Cidade Tricolor ainda em 2017.

Ao contrário de um ano atrás, agora não sobra mais dinheiro.

Conforme seu fluxo financeiro, o Bahia tem déficit de R$ 3.904 milhões até março – entre os principais custos no período, salários e direitos de imagem (R$ 8.5 milhões), intermediação (R$ 1.4 milhão) e acórdão trabalhista (R$ 1.4 milhão).

A transparência nos números foi exaltada pelo presidente Marcelo Sant’Ana em palestra recente em São Paulo.

“Você consegue ter acesso a quase tudo do Bahia. Tem vezes que as pessoas me perguntam: ‘o Bahia comprou determinado jogador por quanto?’ Eu falo: ‘não digo’. E aí me desculpe a agressividade, mas as pessoas são ‘burras’ porque sai no DRE (Demonstração de resultados). ‘Ah, o Bahia não é transparente’… Não, o Bahia é transparente, você é que é ‘burro'”, disse ao auditório na ocasião.

Aliado a um passado nefasto que o fez desembolsar R$ 55 milhões em dívidas desde 2015 e consome 30% de suas receitas, a dificuldade de caixa atual é reflexo também do planejamento feito para a última Série B, que o obrigou a reformular o seu elenco no meio da campanha, trazer Guto Ferreira e reforços e gastar R$ 16.780 milhões a mais em seu orçamento com o futebol.

Com salário de R$ 285 mil e sem clima no elenco, Thiago Ribeiro, emprestado pelo Santos, ficou quase um semestre inteiro afastado até o fim do vínculo, Renato Cajá não rendeu o esperado após luvas de quase R$ 900 mil e Hernane não é o mesmo após renovar contrato até o final de 2018.

Hoje, somente o último continua em Salvador.

Com uma folha salarial ao redor de R$ 3 milhões, uma das menores na elite, e margem de R$ 200 mil para se reforçar sem saída de atletas, o diretor administrativo-financeiro Marcelo Barros chegou a afirmar no encontro no Conselho, transmitido ao vivo no perfil tricolor no Instagram, que “o Bahia ficar na Série A será um milagre”.

Ele foi prontamente retificado pelo vice-presidente Pedro Henriques, que se sentava ao seu lado e ressaltou que não era essa a expectativa interna.

Um passo nesse sentido pode vir a partir desta quinta-feira, no Barradão.

No primeiro encontro entre os rivais em 2017, o Vitória levou a melhor e venceu por 2 a 1 na Fonte Nova.