Como a ‘mentalidade Manchester City’ pode garantir estabilidade a Renato Paiva no Bahia. ENTENDA O FATO SE PUDER!
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Por Carlos Fiúza de Salvador para o Zigzagdoesporte.com.br
Em seus primeiros meses como membro do City Football Group, que adquiriu 90% da SAF do clube, o Bahia vive momento de busca de identidade dentro das quatro linhas. Com um aproveitamento de 64% na temporada, o tricolor conquistou o 50º título estadual da sua história e garantiu vantagem na terceira fase da Copa do Brasil ao vencer o Volta Redonda por 2 a 1, fora de casa, no jogo de ida.
Com o trabalho questionado pelo fracasso na Copa do Nordeste – incluindo expressivas derrotas contra Fortaleza e Sport -, o técnico Renato Paiva tem ainda tem dividido a opinião da torcida, principalmente pelo desempenho abaixo do investimento feito pelo CFG até agora. O time estreia no Campeonato Brasileiro neste sábado, contra o Red Bull Bragantino, no Estádio Nabi Abi Chedid.
Com promessa de injetar R$ 1 bilhão em 15 anos, o City Football Group começou a temporada 2023 anunciando 17 reforços – quatro deles vindos do próprio conglomerado: os volantes Diego Rosa e Nicolás Acevedo, e os atacantes Kayky e Arthur Sales. Acevedo estava no New York City e Sales no Lommel SK, da Bélgica, enquanto Rosa e Kayky não tiveram chances no Manchester City e foram emprestados a clubes portugueses antes de retornarem ao Brasil. O grupo também desembolsou valores consideráveis em jogadores como o atacante Ademir, um dos destaques do Atlético-MG em 2022, e Jhoanner Chávez, lateral campeão da CONMEBOL Sul-Americana com o Independiente Del Valle e considerado a maior compra feita por um clube do Nordeste na história, com valores ultrapassando os 3 milhões de euros.
Mesmo com a oscilação, que nesse momento mostra um time em viés de alta, o Bahia acredita que tudo está dentro do esperado, e que até o Campeonato Brasileiro o time estará mais encorpado. Essa confiança está atrelada às experiências vividas por outros clubes do Grupo City, que garantiu em Salvador a sua conquista mais precoce após se associar a um clube de futebol.
Três anos até o primeiro título
O Manchester City foi comprado no início da temporada 2008-2009 pelo Sheikh Mansour bin Zayed Al Nahyan. Logo na primeira janela de transferências, o clube inglês anunciou seis contratações: Robinho, Jô, Shaun Wright-Phillips, Zabaleta, Kompany e Ben Haim. Seis meses depois, na janela de inverno, Nigel de Jong, Craig Bellamy, Wayne Bridge e Shay Given foram contratados. Os investimentos na temporada inicial foram de 157 milhões de euros, mas os citzens terminaram a Premier League na 10ª posição, além de terem caído nas quartas de final da Europa League, na segunda fase da Copa da Liga e na terceira fase da Copa da Inglaterra.
O primeiro título do City só foi conquistado na temporada 2010-2011. O clube contratou nomes como Edin Dzeko, Yaya Touré, Mario Balotelli, David Silva, Aleksandar Kolarov, James Milner e Jérôme Boateng, mas conquistou apenas a Copa da Inglaterra. Na temporada anterior, terminou em 5º na Premier League após fazer mais investimento em jogadores de peso: Emmanuel Adebayor, Carlos Tevez, Joleon Lescott, Roque Santa Cruz, Kolo Toure, Gareth Barry, Adam Johnson, Patrick Vieira e Sylvinho foram alguns deles. Até levantar a primeira taça, Mansour bin Zayed investiu um total de 487 milhões de euros.
Na temporada 2011-2012, o Manchester City seguiu gastando tudo o que podia no mercado internacional, mas com valores menores em relação a anos anteriores. Foram 91 milhões de euros investidos em Aguero, Sami Nasri, Stefan Savic, Gael Clichy e Costel Pantilimon. Com uma campanha consistente e emocionante, conquistou a Premier League na última rodada, com um gol salvador de Aguero, e começou uma dinastia que dura até os dias atuais. O time azul de Manchester tem 29 títulos na sua história, 17 deles conquistados após a compra.
‘Fidelidade’ aos treinadores
Mesmo com o início irregular no Bahia, o técnico Renato Paiva segue seguro no cargo, ao ponto de afirmar que estava “tranquilíssimo” com o trabalho no clube, respaldado pelo CFG. De fato, o número de demissões feitas pelo grupo é muito baixo.
Importante contextualizar: o City Football Group foi criado em 2013 e tem como CEO o espanhol Ferran Soriano, ex-vice-presidente do Barcelona entre 2003 e 2008 e homem de confiança de Pep Guardiola. A partir da criação do grupo, clubes como New York City, Melbourne City e Yokohama Marinos foram adquiridos, ampliando a rede de negócios dos árabes pelo mundo.
Antes disso, o Manchester City já havia aplicado a ideia de trabalhos em médio e longo prazos. O galês Mark Hughes assumiu a equipe em junho de 2008 e permaneceu até dezembro do ano seguinte, quando deu lugar a Roberto Mancini. O italiano conquistou os primeiros títulos do grupo e cumpriu seu contrato até maio de 2013. O chileno Manuel Pellegrini ficou até 2016, e o espanhol Pep Guardiola tornou-se a referência a partir daí. São quatro técnicos em quase 15 anos.
Exemplos em outros clubes
Assim como no Manchester City, a paciência com o trabalho dos treinadores também é percebida em outros clubes do grupo. A ideia é transformar o Bahia no segundo time do CFG, pela história, pelo mercado em que está inserido e pelo nível competitivo do futebol sul-americano, e por isso exemplos aplicados nos Estados Unidos, na Austrália e no Japão servem de referência.
O New York se transformou oficialmente clube do CFG em maio de 2013, e passou a disputar a Major League Soccer apenas em 2015. São cinco treinadores até então – profissionais como Patrick Vieira e Domenec Torrent passaram pelo clube norte-americano, que só conquistou seu primeiro título em 2021.
Já o Melbourne City, adquirido em janeiro de 2014, acumula passagens de seis técnicos. O primeiro deles, o holandês John Schip, ficou por quatro anos no cargo, e conquistou a Australian Cup em 2016. O Yokohama Marinos, comprado no mesmo ano que o Melbourne, teve 4 treinadores até a atual temporada – os japoneses venceram a J-League em 2019.
O contrato de Renato Paiva com o Bahia termina somente em dezembro de 2024.