No goalball, brasileiros sofrem para apoiar em silêncio, mas festejam duas vitórias.
3 min readThiago Cara, do Rio de Janeiro (RJ), para o ESPN.com.br
“Senhoras e senhores, gostaríamos de lembrar a importância do silêncio. Assim que os árbitros disseram ‘Quiet, please’, nenhum barulho é permitido. Para comemorar o gol, cinco segundos, beleza, pessoal?”. Assim, a organização orientou o público na Arena do Futuro nesta quarta-feira.
Foi a primeira partida do goalball, modalidade criada especialmente para prática de cegos. O silêncio, como nota-se, é fundamental, já que é através do som do guizo dentro das bolas de 76 centímetros de diâmetro e 1,25 quilo que os atletas se orientam para defender e também atacar.
Em quadra, o Brasil estreou com vitórias tanto com seu time masculino, que foi medalha de prata em Londres 2012, quando com o feminino. Os homens venceram a Suécia, por 9 a 6, enquanto as mulheres passaram pelos Estados Unidos, 7 a 3. Na arquibancada, porém, os torcedores sofreram.
O desafio de apoiar em silêncio é grande para os brasileiros. Nos Jogos Olímpicos, a postura da torcida esteve no centro das discussões em diversas modalidades, com o caso mais notório nas vaias ao francês Renaud Lavillenie, derrotado no salto com vara pelo brasileiro Thiago Braz.
“A primeira coisa que temos que ressaltar é o fato de jogarmos com esse público, que não é normal. Agora, o segundo, é educar para que entendam que o silêncio é fundamental. A organização deve se preparar para isso”, disse o técnico do time masculino, Alessandro Tosim.
Na partida dos homens, logo na primeira defesa de Leomon Moreno, ouviu-se um grito de apoio. O árbitro precisou pedir silêncio, que rompeu-se logo em seguida, com o gol do brasileiro – que fez cinco no jogo. Ao todo, foram três interrupções apenas no primeiro tempo.
Logo no início da segunda etapa, foram os narradores da organização que precisaram cobrar silencio após uma intervenção mais alta da torcida, em lance que quase acabou em gol brasileiro – o atleta sueco tocou na bola, ela quicou pouco antes da linha, mas houve tempo para nova defesa.
“Atrapalha nossa equipe. Se a bola entrasse, não ia valer o gol”, disse José Marcio, o Parazinho, autor de dois gols na vitória. “É um esporte que para muito torcedor é chato, tem que se calar, o árbitro manda ficar quieto o tempo todo. A galera tem que se adaptar, mas ajudaram demais.”
Em outro lance, o barulho acabou influenciado para que o Brasil fosse penalizado. Segundo Tozim, os atletas tiveram dificuldades para ouvir a bola em um lance que a bola tocou a trave e acabaram excedendo a regra dos 30 segundos, tempo para que o arremesso de devolução seja realizado.
No jogo feminino, a situação se repetiu. Na reta final do primeiro tempo, a organização sofreu para silenciar a ola. Em seguida, a árbitra canadense Joelle Boulet chegou pedir para que um bebê chorando fosse retirado. “Se não consegue ficar calado, por favor, deixem a arena”, cobrou.
O goalball foi desenvolvido em 1946, para auxiliar na reabilitação de veteranos da Segunda Guerra Mundial que haviam perdido a visão. A modalidade foi incluída na Paralimpíada pela primeira vez em Toronto, Canadá, em 1976, e começou a ser praticado no Brasil no ano de 1985.