Com elenco que custa menos que Renato Cajá, Vila Nova briga pelo acesso na Série B.
5 min readRafael Valente e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br
“Você precisa salvar o Vila Nova esse ano, não podemos bater e voltar para a Série C”.
Foi essa frase que Guilherme, ex-jogador de São Paulo, Corinthians, Atlético-MG e Cruzeiro, só para citar alguns clubes, ouviu ao assumir comando técnico do Vila Nova.
A data era 15 de junho de 2016. A equipe estava na zona de rebaixamento da Série B do Brasileiro após nove rodadas. O clube demitiu Rogério Mancini. A preocupação era com a queda.
“Eu entrei antes do jogo contra o Oeste, fora de casa. O time vinha muito mal e o presidente me falou que eu precisava salvar o clube”, relembrou Guilherme, ao ESPN.com.br.
“Identifiquei que tínhamos muitos jogadores acima dos 30 anos. E o time jogaria quase sempre de terça e sexta, teria viagens desgastantes. Percebi que tinha de formar um grupo mais jovem. Trouxe alguns jogadores da minha confiança. Teve um choque de gestão e um desconforto no começo. Normal. Um pouquinho de desconfiança, mas fiz o que precisava ser feio. Precisávamos de time mais dinâmico e os resultados vieram e a desconfiança passou.”
Jogadores novos chegaram, casos de Guilherme Teixeira, Fagner, Caíque, Joãozinho, Giovanni e Patrick, que já trabalharam com o treinador em outros times.
Foram 16 jogos de Guilherme no comando do Vila Nova. O início foi turbulento, como ele relatou. Uma vitória em quatro jogos. Mas depois o time alvirrubro reagiu.
Venceu times que estavam bem acima na tabela, como Bahia, Joinville, Vasco (líder), CRB (G4) e Paraná. Conseguiu deixar a zona de rebaixamento e chegou ao oitavo lugar, com 36 pontos. Está a dois do CRB, o primeiro clube no grupo de acesso e a nove do Bragantino, o primeiro na zona de rebaixamento para a Série C do Brasileiro.
Detalhe: perdeu apenas quatro partidas, mas jamais duas seguidas.
Guilherme destaca o entrosamento e a recuperação da confiança para justificar a ascensão do Vila Nova. Diz que a folha salarial é modesta para o torneio. Segundo ele, beira R$ 300 mil mensais, menos que Renato Cajá recebe para jogar no Bahia.
“Nossa folha salarial é a mais baixa da Série B, mas as coisas estão acontecendo porque temo um conjunto de trabalho do presidente, comissão, torcida e dos atletas que entenderam a forma como trabalhamos. Nosso time tem uma alma muito grande, nos entregamos em todas as partidas e isso é o nosso combustível”, ressalta o treinador.
Mas, apesar da ascensão, a meta ainda é alcançar o que o presidente pediu.
“Nossa briga é para não cair. Minha preocupação é manter os pés no chão, chegar o quanto antes aos 45 pontos e salvar o time do rebaixamento. Daí sim, ano que vem vamos pensar numa reestruturação para brigar com as outras equipes por outras metas. Hoje não adianta. Nossa briga ainda é não cair”, assumiu o treinador de 41 anos.
Como dificuldades para alcançar o G-4 da Série B, Guilherme cita o elenco pouco numeroso. “Temos nove jogadores pendurados, se perdermos cinco complica tudo. Não temos o elenco das outras equipes”. Mas também a qualidade do grupo que foi montado.
“Eu venho montando times há quatro anos com acessos seguidos, esse ano não montamos o Vila, mas remontamos. O principal é você conhecer a realidade do clube que você está. Eu preciso de jogadores de R$ 7 mil, R$ 8 mil, R$ 10 mil, que tenham retorno numa Série B igual ao cara que ganha R$ 200 mil. Para isso, precisa conhecer muitos jogadores. Esses atletas precisam depois dar retorno financeiro para os times. Tudo isso só consigo fazer por ter conhecimento por ter começado lá atrás”, reforçou Guilherme.
O Vila Nova jogará pela Série B nesta sexta-feira contra o Luverdense, no estádio Serra Dourada, em Goiânia, pela 26ª rodada da Série B.
TRAJETÓRIA EM EVOLUÇÃO
Guilherme se aposentou dos gramados em 2005 e começou a estudar para virar técnico quase que imediatamente. Começou como auxiliar do Marília e chegou a estagiar com Silas, Gallo, Mancini, Muricy Ramalho, Luxemburgo e Adílson Batista.
“Tudo isso me ajudou na transição de comandando a comandante. Foi a melhor coisa que eu fiz nessa preparação. Tudo que fiz como jogador, artilheiro, time grande, seleção brasileira, não serve de absolutamente nada. Tive que desligar a chave completamente e me tornar uma nova pessoa. Esse tempo de cinco anos me ajudou demais a isso tudo. Se você não fizer isso terá problemas.”
O conhecimento da realidade dos clubes pequenos, que têm orçamentos enxutos e problemas diários, foi importante, segundo ele, para saber lidar com os atletas.
“Para você ter uma noção, no Marília eu montei um time na Série A3 com R$ 98 mil e 28 atletas. Isso serve de aprendizado. Fui campeão da A3 com o Novorizontino tendo uma folha salarial de R$ 110 mil, com 30 atletas. Você precisa organizar, conhecer jogadores e minimizar os erros. Isso de começar de lá de baixo dá uma experiência de treinador e de busca por jogadores que me ajuda demais”, ressaltou.
FICHA TÉCNICA:
VILA NOVA-GO X LUVERDENSE
Local: Estádio Serra Dourada, em Goiânia (GO)
Hora: 20h30 (de Brasília)
Data: 16 de setembro, sexta-feira
Árbitro: Leandro Bizzio Marinho – SP (CBF-1)
Assistentes: Alberto Poletto Masseira – SP (CBF-1) e Daniel Luis Marques – SP (CBF-2)
VILA NOVA-GO: Saulo; Maguinho, Guilherme Teixeira, Reginaldo e Marcelo Cordeiro; Fagner, Caíque, Geovane e Fabinho; Moisés e Patrick. Técnico: Guilherme Alves
LUVERDENSE: Diogo Silva; Raul Prata, Luiz Otávio, Everton e Paulinho; Jean Patrick, Ricardo e Sérgio Mota; Rafael Silva, Hugo e Alfredo. Técnico: Júnior Rocha.