Dirigentes enfrentam organizadas e sofrem com a reação
4 min readPor Lucas Borges, para o ESPN.com.br.
Enfrentar o poder das torcidas organizadas tem um preço caro, e as diretorias de grandes times brasileiros que ousaram comprar a briga estão descobrindo isso por experiência própria.
O Palmeiras é um dos que virou as costas para estes grupos. Na última quinta-feira, o presidente alviverde, Paulo Nobre, acordou lendo uma faixa esticada nas proximidades da sede do clube o atacando – “Paulo Nobre, o Palmeiras é gigante comparado ao seu ego!”, lia-se – e foi almoçar com a notícia de que indivíduos destruíram a sede do programa de sócio-torcedor alviverde ao serem impedidos de comprar ingressos para o clássico do próximo domingo, contra o Santos, de forma irregular.
Não há confirmação de que os responsáveis pelo crime fazem parte de organizadas, mas um funcionário que prestava serviços ao Palmeiras no momento da confusão revelou ao ESPN.com.br que pelas carteirinhas dos sócios presentes no local usadas para a comercialização de entradas era possível identificar que alguns deles eram da Mancha Alviverde. A polícia tem indícios que reforçam esta tese.
Os conflitos entre torcedores e diretorias de clubes não são exclusividade do estado de São Paulo. No Rio de Janeiro, o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, deixou de dar ingressos às torcidas desde que assumiu o cargo, em 2013.
Seu filho e ele já foram interpelados pessoalmente por integrantes das facções, que também reclamam do alto preço das entradas em jogos da equipe. O filho de Bandeira de Mello passou a andar com seguranças quando recebeu ameaças na porta do Estádio do Maracanã, antes de um Flamengo x Botafogo, no Campeonato Carioca deste ano.
Gilvan de Pinho Tavares, mandatário do Cruzeiro, é o cartola que mais longe foi na empreitada contra a violência das arquibancadas. Dispostos a acabar com o prejuízo financeiro causado por brigas entre fãs do seu próprio time, o que provocava a perda de mandos de campo e diminuía a receita com bilheteria, os mineiros não só extinguiram benefícios com ingressos e despesas de viagens como proibiram as organizadas de usar o símbolo celeste em camisas, bonés etc.
“Quando começamos nosso trabalho de batalhar pelos sócios-torcedores, dissemos que não é o clube que tem de batalhar pela torcida. Falamos para eles entrarem no programa Sócio do Futebol, temos categorias com valores baixos e conseguimos que muitos entrassem no programa de sócio. Mas vários começaram a me ameaçar, tive de trocar de celular e de telefone fixo”, declarou, anteriormente, Tavares.
Mais tarde, o tom dos insatisfeitos mudou. Mas a postura do dirigente, não. “Estou recebendo recados e recebi um ofício assinado pelos presidentes das torcidas ditas organizadas pedindo pra gente reconsiderar, que agora não vão mais acontecer estes fatos -conflitos violentos nos estádios -, que eles não vão mais permitir. Se eles falam que não vão permitir agora, é porque estavam permitindo antes.”
Trocas de socos envolvendo pessoas com o uniforme da mesma equipe também são recorrentes no Grêmio, cujo presidente, Fábio Koff, substituiu uma direção bastante condescendente com tais facções. Segundo matéria do jornal ‘Zero Hora’, durante a gestão anterior, de Paulo Odone, R$ 1,1 milhão foi repassado para viagens de torcedores organizados.
Paulo Nobre, mandatário do Palmeiras, decidiu dar fim aos subsídios no Palestra Itália depois que o meia Valdivia foi alvo de agressões de integrantes da Mancha Alviverde em aeroporto em Buenos Aires, na volta para casa após partida da Copa Libertadores de 2013, na Argentina.
A relação entre cartolas e organizadas no rival Corinthians ainda é bastante próxima, mas o dono do poder no Alvinegro, Mario Gobbi, tornou-se inimigo de setores da arquibancada só de prometer rompimento com os grupos a que pertencem os invasores que depredaram o centro de treinamento do clube, em fevereiro deste ano.