Técnico multicampeão faz outra final, disseca vôlei e vê estaduais incharem calendário como no futebol; confira.
5 min readIgor Resende, para o ESPN.com.br.
Ele não chega a ser um dos nomes ou um dos rostos mais conhecidos do grande público, mas o currículo fala por si só. São nada menos que sete títulos brasileiros, três como técnico e mais quatro ainda como assistente. Além, claro, de outras muitas finais – como a deste ano, que acontece no próximo domingo, no ginásio Mineirinho, em Belo Horizonte. Credenciais suficientes para que Marcos Pacheco possa fazer uma boa análise do momento do voleibol brasileiro.
Em entrevista ao ESPN.com.br, o comandante do Sesi dissecou o vôlei nacional e disse enxergar melhorias nos últimos anos, mas ainda vê problemas no calendário. E o curioso é que as dificuldades no esporte são causadas por algo muito parecido com o que acontece no futebol: a seleção brasileira e os estaduais.
Pacheco, claro, também falou do Sesi, da decisão em jogo único e do dura missão de enfrentar o ótimo – mas não imbatível – time do Sada Cruzeiro.
Veja a entrevista completa com Marcos Pacheco:
ESPN.com.br: Como é enfrentar um rival embalado como o Sada Cruzeiro, que perdeu apenas três vezes em toda a temporada? O que fazer para desbancar um time assim?
Marcos Pacheco: Temos que enfrentá-los como estamos enfrentando nos últimos anos. É uma equipe muito talentosa, estão mantendo esse time há várias temporadas. É um time que já ganhou muita coisa e sabe como enfrentar as dificuldades, por isso oscila pouco, sempre joga em um padrão alto. Para ter a chance de vencer, tem que igualar eles. Eles não vão baixar o nível. É um tiro no pé esperar que eles joguem mal. É um jogo de risco, não dá para fazer um jogo comum. Tem que arriscar algo, como o saque. Tentar quebrar o sistema de recepção, fazer com que o William não tenha todas as opções.
ESPN.com.br: É melhor que a final seja em jogo único contra um time assim? O que pensa sobre essa final em jogo único?
Marcos Pacheco: Não existe time imbatível. Eles perderam o Sul-Americano, nem foram para a final da Copa do Brasil. É um time muito bom, mas não existe ninguém imbatível, então podemos ganhar. Eu participei da primeira final em jogo único e tinha muitas dúvidas se mudava alguma coisa no time. Essa me parece que é a sétima final em jogo único. Se fosse optar, ainda acredito em uma melhor de três. Acho que seria mais do que foi o campeonato, longo, de turno e returno. Não é um Mundial ou uma Olimpíada que são de tiro curto.
ESPN.com.br: Você fez história com o ótimo time montado pela Cimed, que ganhou tudo por muito tempo. Como foi participar desse projeto. Vê semelhanças com o que acontece hoje no Cruzeiro?
Marcos Pacheco: Naquele momento a gente teve a felicidade e a competência de visualizar jovens promissores. Bruninho, Éder, Lucão, Thiago Alves, Mario Júnior… Eles ainda não eram protagonistas, eram promessas. O time cresceu junto, deu seguimento. É o que o Cruzeiro tem hoje, a continuidade. E esse é um grande mérito do Mendez (técnico do Cruziero) e de toda equipe: manter a fome por vitórias, sempre buscar algo mais. Muitas vezes a continuidade e as conquistas deixam de barriga cheia, saturadas. Foram sete anos, cinco finais seguidas com a CImed. Era um projeto muito legal. Pena que existem ciclos. Tirando Osasco, Rio de Janeiro, Minas, São Caetano, os outros times são de ciclos. O investidor alcança as metas desejadas como produto e depois sai.
ESPN.com.br: Como mudar isso?
Marcos Pacheco: É uma equação difícil. Passei por Frangosul (Novo Hamburgo), pela Ulbra. Foram projetos vencedores, mas que não viveram muito, não deram continuidade. Chega um momento em que o investidor tem que aumentar o investimento para manter as conquistas. Tem a questão da televisão que não fala o nome da equipe e isso é um fator negativo. Na Cimed, tinha contato com o presidente da empresa e ele sempre falava que o patrocínio era de camiseta, não de nome. Tem alguns fatores que temos que dar uma reavaliada.
ESPN.com.br: E quanto a calendário, há problemas no vôlei?
Marcos Pacheco: Não sei se hoje é ideal, mas já foi pior. Hoje existe uma programação com a seleção também. Temos uma característica única no Brasil, que são os estaduais. Você não acompanha o calendário internacional. No ano passado, tive momentos com apenas seis jogadores para treinar. As competições internacionais têm que acabar até dia 15 de outubro para os jogadores chegarem para a disputa dos playoffs do estadual. Até lá, temos que nos virar com o que temos. O que não pode, e infelizmente aconteceu no ano passado. O Lucarelli chegou na terça de uma viagem da Polônia e na sexta tive que usar ele porque tinha problemas de lesões e também de viagens com meus outros ponteiros. Não dá, não posso fazer isso, é perigoso.
ESPN.com.br: Com o fim de mais um ciclo olímpico, é bem possível que Bernardinho ou até Zé Roberto decidam largar a seleção brasileira (masculina e feminina, respectivamente). Você sonha com a seleção?
Marcos Pacheco: Acho que como todo profissional, sonho em representar o país. Mas sou ciente, consciente, que as duas pessoas mais aptas e preparadas estão ali. É inquestionável que Zé Roberto e Bernardinho são os melhores. Tenho esse sonho também de disputar uma Olimpíada, até como auxiliar se for o caso. Mas hoje vejo que Bernardinho e Zé têm a opção, e essa opção vai ser deles, de ficar quanto tempo quiserem na seleção. Eles têm trabalho, competência e história para começar um novo projeto.