‘Voando’ aos 35, ex-Santos virou parceiro de lenda do Real e quer jogar Copa pelo Catar; confira.
6 min readEm uma idade em que muitos jogadores já não têm grandes objetivos na carreira e estão pensando na aposentadoria, o meia Rodrigo Tabata vive o sonho de sua primeira convocação para uma partida oficial por uma seleção. Aos 35 anos, o ex-jogador do Santos foi convocado e irá defender o Catar pelas eliminatórias asiáticas para a Copa do Mundo de 2018.
“É um sonho que estou vivendo e farei de tudo para alcançar. Quem sabe junto com os companheiros possa realizar essa façanha de classificar, seria muito importante aos mais novos pegar essa bagagem. Eles chegariam mais experientes em 2022, quando o Mundial será aqui”, disse o jogador, em entrevista ao ESPN.com.br.
“As equipes que pegaremos têm tradição de terem ido para outras Copas, mas no futebol nada é impossível. Eu tinha sido convocado para um período de treinos na Áustria e não podia jogar em partidas oficiais. Fiz dois amistosos e aproveitei para conhecer mais de perto o pessoal. Espero ir bem e ter sucesso na seleção”, relatou.
Com a incrível marca de 19 gols em 23 jogos com a camisa do do Al-Rayyan nesta temporada, o meia acredita que poderá chegar em alto nível ao Mundial, quando estará com 38 anos. Para isso, se inspira em um ex-companheiro de Vila Belmiro que hoje atua no Palmeiras aos 42 anos.
“No Brasil tem essa cultura de que com 35 anos você está velho, ainda bem que existe o Zé Roberto para mostrar ao contrário. Ele é um grande profissional. Precisa respeitar o cara que está em alto nível, independentemente da idade. Se continuar me cuidando e treinando sério acredito que dá pra chegar tranquilo”, afirmou.
Além da fase artilheira, Tabata deixa muitos atletas mais jovens para trás quando o assunto é resistência física.
“Nunca tive lesão séria na carreira e tenho uma média alta, cerca de 11 km corridos por partida. É a segunda maior média do time e estou entre os cinco que mais correm no campeonato. Estou voando, o preparador físico do Jorge Fossatti [ex-técnico do Inter e comandante do Al-Rayyan] é muito bom. Corro que nem os meninos (risos)”, garantiu.
Com o brasileiro jogando em alto nível, o time lidera a liga nacional com 61 pontos, com 20 vitórias, um empate e duas derrotas. Em certo momento da temporada, o clube catari chegou a ter um aproveitamento de 93,75%, maior do que Paris Saint-Germain e Bayern de Munique em seus campeonatos nacionais.
“Está acontecendo uma surpresa boa e só fiquei fora de dois jogos. Uma média de gols excelente para um meia. O time ajuda demais, o sistema de jogo me facilita muito”, analisou.
AMIGO DE LENDA DO REAL E RIVAL DE EX-BARÇA
A experiência no Catar fez Tabata conhecer lendas do futebol mundial, como o meia Xavi Hernandéz, ex-Barcelona e hoje no Al Saad, que foi seu adversário nesta temporada.
“Ele não veio para cá só para passear, veio para jogar e é ótimo. Admirava o cara pela TV e jogando contra ele dá para aprender cada vez mais”, vibrou.
O brasileiro ainda foi companheiro de time no Al Saad do ex-atacante Raúl, um dos maiores ídolos da história do Real Madrid.
“O cara foi capitão do Real, tiro de lição ter jogado com ele. Foi fantástico ter visto de perto. Ele era humilde e conversava com todo mundo, treinava demais, isso que eu mais aprendi”, contou.
“A gente pensa como o cara chegou tão longe na carreira. Daí você vê que ele não falta um treino, não chega atrasado, puxa a fila na corrida e se dedica. Ele ganhou tudo, poderia estar só enganando, mas estava aqui lutando demais. Daí os mais jovens olhavam e pensavam: ‘Por que eu não vou fazer também?'”, filosofou.
Tabata conversava muito com ex-camisa 7 merengue e não perdia a chance de brincar com o colega. “Eu sempre falava: ‘Ê, Raúl, você jogou com Figo, Zidane, Ronaldo Fenômeno, Beckham, e agora tem que jogar comigo, que dureza (risos), Ele dava muita risada. Ele me dava moral demais. Dizia que eu jogava muito. Isso não tem preço”, orgulhou-se.
SELEÇÃO JAPONESA NÃO PASSOU DE BOATO
Durante as eliminatórias da Copa do Mundo de 2006, Rodrigo Tabata teve seu nome ligado a uma possível naturalização para defender a seleção do Japão.
“O Zico era o treinador da equipe e questionaram sobre uma convocação minha, pois estava bem no Santos e sou descendente de japoneses. Ele disse: ‘Quem sabe, é um grande jogador’. Daí os japoneses caíram matando em cima (risos)”, relatou.
“Saíram matérias e tudo mais, até as televisões de lá vierem aqui saber se eu gostaria de jogar. Mas o processo de naturalização, mesmo do meu caso de ter avós japoneses, é complicado, ficou só nesta conversa. Recebi esse elogio do Zico que gerou tudo isso (risos)”, garantiu.
PRAIA DE ROUPA
Natural de Araçatuba, interior de São Paulo, o meia começou a base no Paulista de Jundiaí. Foi para o Santo André, time pelo qual disputou a Copa São Paulo de Futebol Júnior e teve rápida passagem no profissional. Depois disso, rodou por Inter de Limeira, Ferroviária, Treze, XV de Piracicaba, América-RN e Campinense, antes de chegar ao Goiás.
“Foi lá que me deu a visibilidade para o Brasil todo, fique dois anos e fizemos campanhas boas, até chegamos a classificar para a Libertadores, em 2005”, relembrou.
No ano seguinte, o meia foi para o Santos, equipe pela qual ganhou dois Paulistas (2006 e 2007). Depois, foi para a Turquia, onde defendeu Gaziantepspor e Besiktas, antes de se transferir ao Catar, em 2010.
“A cultura e a religião deles são bem diferentes, quando cheguei aqui não conhecia muita coisa. Um dia fui pra praia com a minha esposa e o meu filho, que tinha uns 6 meses. Estava calor, fui descer do carro sem camisa e minha esposa de saída de banho. Os guardas não me deixaram. Mostraram o cartaz: homem só podia usar bermuda no mínimo no joelho e mulheres cobertas. Era uma praia mais local, não pra turista. Fui de bermuda e camiseta com meu filho no mar (risos)”, recordou.
Vivendo grande fase e curtindo cada dia no país, Tabata ainda não pensa na aposentadoria.
“Enquanto me sentir bem sem me poupar quero continuar jogando. Antes tinha o sonho de encerrar a carreira no Goiás, tenho relação boa de amizade com pessoal do clube. Mas conforme passa o tempo fica mais difícil voltar. Pretendo jogar até a hora que não der mais. Dai é hora de dar tchau”, finalizou.