Após ouro e nota inesperada, seleção feminina de ginástica quer top 5 na Olimpíada.
5 min readBianca Daga, do ESPN.com.br.
Nunca 4,616 pontos significaram tanto. Número que mostra o tamanho da evolução da seleção brasileira feminina de ginástica artística de outubro para cá. Há seis meses, a equipe somou 221.861 na Campeonato Mundial, na Escócia, terminou em nono e sem vaga nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. No último domingo, 226.477, medalha de ouro na última seletiva e classificação garantida. Fator casa e um trabalho psicológico nunca antes feito combinaram e resultaram na melhor nota dos últimos anos e permitiram ao grupo liderado por Daniele Hypolito e Jade Barbosa sonhar mais alto.
“Em nenhuma conta que fizemos esperávamos essa pontuação. Nosso planejamento foi classificar três atletas para as finais individuais. Esse é, hoje, nosso melhor resultado em termos de nota. Antes era 224. Fizemos pontuação que nos teria deixado em quarto no Mundial. Então, agora começamos a sonhar um pouco mais alto, temos um objetivo maior: entrar na final da Olimpíada e estar entre as cinco melhores”, avaliou Georgette Vidor, coordenador da seleção feminina, em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br.
No evento-teste, o Brasil disputou com sete países (Alemanha, Bélgica, França, Austrália, Suíca, Romênia e Coreia do Sul), sendo que apenas os quatro primeiros garantiriam vaga nos Jogos Olímpicos. A expectativa por equipe foi superada e individualmente também. Além do ouro coletivo, a seleção se classificou para finais nos quatro aparelhos e saiu com quatro medalhas.
PRESSÃO A FAVOR
O fato de disputar o maior evento esportivo do mundo em casa pode ser muito bom ou muito ruim, dependendo de como os atletas conseguirem lidar com a pressão e a torcida que virá das arquibancadas. Para a seleção feminina de ginástica artística, ao menos no evento teste, pesou a fator e foi o fundamental.
“Estar em casa foi o diferencial. Ver o ginásio cheio deixou elas a mil, em vez de deixá-las ansiosas. Vejo pela Dani e pela Jade… fez toda a diferença. Eu trabalho com a ginástica há uns quinze anos. Para mim, era obrigação. Não existia a hipótese de não nos classificarmos para a Olimpíada em casa. Essa foi a razão maior para conseguirmos a vaga. Não vamos viver para ver de novo”, destacou Georgette.
TRABALHO MOTIVACIONAL
A dirigente também ressaltou como parte muito importante do processo de evolução da equipe o trabalho motivacional nunca foi feito antes. Desde 2014, a seleção com os cuidados da psicóloga Aline Wolff, trabalho intensificado desde janeiro do ano passado, quando as atletas começaram a treinar no Centro de Treinamento do Time Brasil, no Rio de Janeiro.
“Tínhamos ações pontuais nesse sentido, eu conversava com elas às vezes… mas desde que estou na ginástica, é a primeira vez que contamos com equipe multidisciplinar e apoio do COB. Tirando as meninas que treinam no CEGIN, em Curitiba, temos praticamente 90% da seleção concentrada e com atendimentos semanais da psicóloga. Mudou completamente. Eu queria algo como o que é feito no vôlei”, disse.
Na véspera do dia decisivo no evento-teste, vieram mais novidades práticas. “Queria que elas entrassem com vontade de superar o mundo. No dia anterior, A Aline passou vídeos e deu palestras. Antes, nossa nutricionista tinha gravado um vídeo com a Susana Vieira (atriz) e eu um com a Fátima Bernardes e nós mostramos para as meninas. Além disso, treinamos só de manhã para aliviar um pouco a cabeça. Tudo isso, somado à preparação técnica, que foi muito bem feita, deu resultado”, contou.
DANI E JADE
A equipe que conquistou a vaga para a Olimpíada foi formada pelas jovens Flávia Saraiva, Rebeca Andrade, Lorrane dos Santos e Carolyne Pedro, ao lado das experientes Daniele Hypolito e Jade Barbosa. As duas veteranas lideram a seleção, são exemplo, têm papel fundamental e, naturalmente, carregam a maior parte da carga emocional.
“No final, as duas estavam bastante cansadas. A Dani foi uma ginasta por dez anos. Ela tem uma coisa que me impressiona que é a responsabilidade, a disciplina de estar todo dia no ginásio, com vontade de treinar. A Jade é chorona (risos), mas treina muito forte, se empenha muito. As duas já brigaram, disputaram, mas hoje são muito parceiras, servem de espelho para as mais novas e têm valor imenso para a equipe. Estão felizes, com muita garra e isso faz a diferença”, contou Georgette.
A ginástica feminina do Brasil merece uma medalha olímpica. Chegou a hora. Agora não estou mais sonhando com o impossível
SONHO POSSÍVEL
Os nomes das atletas que vão compor a seleção brasileira feminina de ginástica artística nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro serão definidos no final de junho, após algumas avaliações. As previsões da coordenadora são otimistas, considerando as que disputaram a seletiva:
– Solo: Flávia precisa melhorar a dificuldade das acrobacias para brigar por vaga na final; Jade tem chance e Rebeca também, se voltar a se apresentar como no ano passado;
– Trave: Flávia, Jade e Daniele pode estar na final;
– Barras assimétricas: Melhoramos muito, mas não em nível de final. Rebeca é a melhor no aparelho;
– Salto: Jade e Rebeca se destacam e podem brigar por medalha;
– Individual geral: Flávia, Jade, Lorrane e Rebeca podem disputar vaga na final (são duas por país, no máximo).
“Agora, temos que virar a chave. A dificuldade será maior e temos que nos preparar melhor ainda. Senão, ficamos satisfeitos. E temos que ser eternos insatisfeitos. Satisfeitos só quando ganharmos o ouro. A ginástica feminina do Brasil merece uma medalha olímpica. Chegou a hora. Ainda faltam detalhes e vamos estudar matematicamente onde podemos chegar. Mas agora não estou mais sonhando com o impossível.”