Maior zebra da história? Time de vilarejo de 5 mil habitantes derruba Porto e Benfica e é campeão em Portugal.
7 min readFrancisco De Laurentiis e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br
Qual a maior zebra da história do futebol?
Seria a vitória dos Estados Unidos sobre a Inglaterra na Copa do Mundo de 1950, com gol de um imigrante haitiano que trabalhava como lavador de pratos antes do Mundial?
A Dinamarca campeã da Euro-1992, sendo que nem havia se classificado para o torneio (entrou como convidada no lugar da Iugoslávia, retirada por causa da guerra no país)?
O São Caetano eliminando o Peñarol e América-MEX e chegando à final da Libertadores?
Santo André, Paulista de Jundiaí, Juventude ou Criciúma campeões da Copa do Brasil?
O Leicester campeão inglês? O Montpellier campeão francês? O Wolfsburg campeão alemão? O Deportivo La Coruña campeão espanhol? O AZ Alkmaar campeão holandês?
São tantas, mas tanta, que cada um tem a sua favorita…
No último final de semana, porém, um forte candidato surgiu ao título de maior zebra de todos os tempos: um time de um vilarejo de 5 mil habitantes foi campeão da Taça da Liga de Portugal, competição disputada apenas por equipes da elite e da segunda divisão.
E mais: eliminando o gigante Porto na fase de grupos e o superpoderoso Benfica, atual tricampeão nacional, na semifinal, além de bater o Braga na grande decisão.
EFE/EPA/LUIS FORRA
Trata-se do Moreirense Futebol Clube, time da vila de Moreira de Cônegos, que é tão pequena que não é tratada nem como cidade – é definida como uma “freguesia” do município de Guimarães.
O local é tão modesto que a população do vilarejo é suficiente para preencher só um pouco mais que a metade do estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas, que comporta 9 mil torcedores.
O modesto clube, contudo, deu de ombros ao favoritismo dos outros e fez brilhante campanha na Taça da Liga. Começou eliminando o Estoril na fase preliminar, o que lhe garantiu passagem ao estágio de grupos. No estágio seguinte, terminou líder de sua chave, vencendo o poderoso Porto e o Feirense e empatando com o Belensenes.
Nos mata-matas, veio a maior surpresa: no jogo contra o Benfica, o técnico do Moreirense, Augusto Soares Inácio, resolveu poupar seis titulares, já que priorizou o Campeonato Português, no qual seu time luta para ficar na elite. Qual não foi a surpresa quando a partida terminou em 3 a 1 para a modesta equipe de Moreira de Cônegos?
Inacreditável!
Na final, disputada em campo neutro, o Moreirense seguiu sua história de sonhos e bateu o Braga por 1 a 0, conquistando seu primeiro grande título na história e acabando com a série do Benfica, que havia vencido as últimas três edições da Taça da Liga.
O gol da final foi marcado pelo meia brasileiro Cauê, 27 anos, cobrando pênalti aos 47 minutos do primeiro tempo. Ele é um dos nove “brazucas” do time, ao lado dos defensores Diego Ivo, Diego Galo, Jander e Marcelo Oliveira, dos meio-campistas Wallyson, Alan e Ângelo Neto e do atacante Nildo Petrolina – há ainda gringos de outros nove países.
BRUNO BARROS/DPI/NURPHOTO/GETTY IMAGES
“Todos os jogadores foram muito importantes para esse título histórico, já que o treinador aproveitou o elenco inteiro na competição. Além de tudo, fomos campeões invictos. Eu pude contribuir com dois gols de pênalti que ajudaram muito. Fico super feliz em ajudar, mas não foi uma conquista só minha, e sim de um grupo que sonhou e acreditou”, festejou Cauê, ao ESPN.com.br.
“Foi uma jornada difícil, mas vitoriosa. Ganhamos do Porto, do Benfica, do Braga… E ainda empatamos um jogo que parecia perdido com o Belenenses, que perdíamos por 3 a 1 e buscamos o 3 a 3. Sabíamos desde o início que seria muito difícil a gente ser campeão, porque os outros times são gigantes, mas quando entrávamos no campo, percebíamos que dava para ganhar. E assim foi indo até levantarmos a taça. Afinal, futebol sempre começa 0 a 0 e é jogado dentro de campo. Ninguém ganha na véspera”, brada Cauê.
Para se ter ideia da façanha: o elenco inteiro do Moreirense é avaliado em 12,43 milhões de euros (R$ 41,6 milhões), segundo o site Transfermarkt. Ou seja, menos que o meia-atacante Rafa Silva (15 milhões de euros, ou R$ 50,15 milhões), do Benfica, ou que o meia Brahimi (20 milhões de euros, ou R$ 66,87 milhões), do Porto, valem sozinhos.
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