26/07/2024

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Modric, o refugiado de guerra que virou o jogo na Croácia e no Real

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Por Thiago Arantes, de Munique, para o ESPN.com.br*.

O Real Madrid é um time essencialmente de contra-ataques. Mas, quando é preciso um passe longo ou um lançamento para furar o bloqueio defensivo de um rival, todos sabem em quem confiar: Luka Modric.

O meio-campista croata é especialista em virar o jogo. Literalmente.

ESPN.com.br

LADO B DA COPA
Modric sobreviveu à guerra e se tornou um craque

Destaque da seleção da Croácia que enfrentará o Brasil no jogo de abertura da Copa do Mundo, Modric teve – antes de se tornar uma estrela do futebol internacional – de virar o jogo da própria vida.

Quando ele tinha 6 anos, a Croácia entrou em guerra para tornar-se independente da Iugoslávia. O pai de Luka, Stipe Modric, foi ao campo de batalha como soldado. Um dos avôs morreu durante um bombardeio das forças sérvias, que matou um grupo de civis, todos idosos.

Durante boa parte da guerra, Luka Modric e sua família viveram refugiados em um hotel na cidade de Zadar. Ali, outras famílias também se escondiam da guerra. Os pais, então, chegaram a um acordo: tentariam, de todas as formas, evitar que os filhos soubessem das atrocidades cometidas na guerra.

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Modric é hoje um dos destaques da Croácia
Modric é hoje um dos destaques da Croácia

Eles se esforçavam para que os filhos levassem uma vida normal, dentro do possível. Como o personagem Guido Orefice, de Roberto Benigni, no filme ‘A Vida é Bela’, eles buscavam camuflar as situações de conflito.

Foi assim, em meio aos esforços de sua família para que a guerra não afetasse sua vida, que o pequeno Luka Modric conheceu o futebol. Aos 11 anos, logo depois do fim da guerra, ele começou a jogar nas divisões de base do time da cidade de Zadar. Em 2002, aos 17 anos, foi para o poderoso Dínamo Zagreb, o maior clube do país.

Mas a carreira de Modric, o garoto que sobreviveu a uma guerra e começou a jogar futebol para não ver armas e bombardeios, ainda não decolaria. Em vez de ficar na melhor equipe da Croácia, ele foi emprestado para o Zrinjski Mostar, da Bósnia-Herzegovina: em apenas uma temporada – e com apenas 18 anos – foi eleito o melhor jogador do Campeonato Bósnio.

Em 2004, Modric voltou a seu país para defender o Inter Zapresic. Na temporada seguinte, enfim, ele teve chances no Dínamo de Zagreb. A Croácia, país que o meio-campista tanto ama e nação pela qual seu pai lutou nos campos de batalha, logo ficaria pequena para Luka.

No dia 26 de abril de 2008, o Tottenham anunciou a contratação de Modric. O franzino croata de 1,74m teria de se adaptar ao futebol inglês, mais físico e de contato. Pouco depois de ser contratado, ele foi questionado sobre o tema. “Eu joguei na Bósnia. Quem joga na Bósnia, joga em qualquer lugar”.

Superar dificuldades dentro de campo, para uma pessoa que passou por tantos problemas muito maiores, nunca foi um grande obstáculo. Modric não apenas adaptou-se ao estilo do futebol inglês como tornou-se um dos principais jogadores do Tottenham. Além disso, ganhou ainda mais espaço na seleção da Croácia, que já defendia desde as categorias de base.

Quando chegou ao Real Madrid, em agosto de 2013, Modric já era uma estrela em seu país. Mas, então, precisou superar mais uma dificuldade: a concorrência por uma vaga, em um time que tinha Xabi Alonso, Sami Khedira e Mesut Ozil como titulares; e Kaká como reserva de luxo.

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Modric Reportagem Arantes
Modric é o maestro do meio de campo do Real Madrid

Aliás, para chegar ao clube, ele precisou passar por outro obstáculo: a resistência do Tottenham em negociá-lo. Jogador indispensável para os Spurs, o croata até se recusou a fazer uma viagem aos Estados Unidos na pré-temporada em 2012 e acabou afastado. Ele até faria as pazes com o então treinador André Villas-Boas, mas isso não impediu que sua saída de Londres fosse pela porta dos fundos.

Em Madri, Modric foi ganhando espaço aos poucos. As saídas de Kaká e Ozil, neste ano, a completa adaptação e a mudança do esquema tático com o técnico Carlo Ancelotti fizeram o croata se firmar como titular absoluto. Ganhou a condição de maestro da equipe. A mesma que tem na seleção croata.

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