Fla admite interesse mútuo com Odebrecht por novo Estádio da Gávea; insucessos do passado servem como lição
5 min readDo ZigZag do Esporte.
Flamengo.
Protagonista da reunião do Conselho Deliberativo do Flamengo para votação do novo acordo com o Consórcio Maracanã S.A. na última terça-feira, o Estádio da Gávea está de novo sob holofotes. Batizado José Bastos Padilha, ex-presidente do clube durante a década de 30, quando foi construído, o estádio e sua arquibancada com capacidade para cinco mil torcedores não contemplam as exigências necessárias atuais do futebol brasileiro para comportar jogos oficiais.
Nos bastidores, o clube atua com força para que ele seja revitalizado e, por isso, decidiu incorporar uma ajuda da Odebrecht como uma cláusula no novo contrato com o Consórcio Maracanã S.A. As partes ainda conversam sobre a possibilidade e o desejo é mútuo, embora a obrigatoriedade de construção não conste em contrato. Há um entendimento entre as partes e o clube toma lições em empreitadas sem sucesso do passado pra viabilizar o sonho no presente.
A ideia foi discutida por nomes influentes na política interna rubro-negra e externada pelo ex-presidente Marcio Braga durante a reunião do Conselho Deliberativo. A discussão de viabilidade do projeto foi levada à Odebrecht, empresa que tem participação de 90% no Consórcio Maracanã S.A., e, em princípio, agradou. Inicialmente, a diretoria concebe a ideia de ter capacidade em torno de 15 mil e redesenhar a arquitetura do estádio, tornando-o moderno. Assentos vips estão no projeto, assim como restaurantes também de luxo com vista para o campo e para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Jogos de menor porte seriam disputados no novo Estádio da Gávea.
“A nossa intenção é ter o Estádio da Gávea revitalizado. As partes iriam estudar a viabilidade financeira. Há um interesse do Flamengo e da Odebrecht. O nosso sonho era ter um estádio de 50 mil. Isso é inviável. Acho que uma revitalização de um pequeno estádio é um direito legítimo do Flamengo. É bom para o clube e para a cidade. Aquele estádio como está hoje é feio. Se você tiver um mais moderno, mais horizontal, para dez, 12 ou 15 mil pessoas, não vejo nada de mais”, afirmou o vice-presidente de patrimônio, Alexandre Wrobel.
A ideia de revitalizá-lo não é nova e tampouco foi trazida à tona pelo ex-presidente Marcio Braga à toa. Durante seus dois últimos mandatos à frente do clube, entre 2004 e 2009, o ex-mandatário idealizou um projeto de revitalização para construir um estádio com capacidade para 30 mil lugares e um centro comercial. O suporte financeiro para construir o estádio seria de empresários norte-americanos do Bonham Group, que, em troca, teriam direito a exploração comercial, como a venda de naming rights.
O projeto, garante Braga, conseguiu todas licenças e autorizações necessárias junto aos órgãos municipais, estaduais e federais. Além disso, atendia aos parâmetros urbanísticos e de edificações estabelecidos pela legislação do Rio de Janeiro. Pelo acordo, o recuo das calçadas seria ampliado entre seis e nove metros e a altura projetada alcançaria 24,8 metros, inferior aos 26,7 metros da atual arquibancada. Após ter o aval do então prefeito do Rio, Cesar Maia, no fim de 2005, e também da então governadora Rosinha Garotinho, o projeto não foi à frente. Segundo Braga, devido a uma canetada do atual governador, Sérgio Cabral Filho, e que tem reflexo direto no acordo com o Maracanã.
“Quando estávamos com tudo pronto se iniciou uma grande discussão com o governador para que nós participássemos da privatização do Maracanã. Ele (Sérgio Cabral) tirou a autorização dada pela Rosinha e me tranquilizou dizendo que o Flamengo ia entrar na licitação do Maracanã com possibilidade de vitória. Acreditei num mentiroso. Eles fizeram um edital de concorrência e disseram que os clubes não podiam entrar na licitação. Agora ficamos sem estádio. Ele evidentemente fez isso tudo para beneficiar os seu amigos, a Odebrecht, o Eike Batista, que ganharam a administração do Maracanã”, dispatou Marcio Braga.
Em contato com a reportagem, a assessoria do Consórcio Maracanã S.A. afirmou que “A concessionária não se pronuncia a respeito de contratos em negociação.”
Antes contrária, associação de moradores adota discurso cauteloso
Utilizado pela última vez em abril de 1997, em uma partida entre Flamengo e Americano pelo Campeonato Carioca, o Estádio da Gávea conta com opositores também na vizinhança. Presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Leblon, Evelyn Rosenzweig foi autora de uma ação popular contra a construção de um novo estádio na Gávea. O motivo, segundo ela, era a utilização do terreno, cedido pelo Estado, também para fins comerciais e não só esportivos. Uma liminar concedida pela juíza Maria Paula Gouvêa Galhardo, da 4ª Vara de Fazenda Pública do Rio, impediu o início das obras. Agora, Evelyn adota um tom mais conciliador quanto à ideia.
” A questão do estádio muda um pouco de figura porque eles mantêm a finalidade esportiva. Deve-se estudar o impacto viário agora. Isso reflete para o entorno todo. Não é o melhor dos mundos, não é o que a gente gostaria. Mas tem de ser feito um estudo de impacto viário com muita seriedade e consideração com o morador. É um impacto ambiental, não temos uma infra-estrutura boa no bairro atualmente, de água, esgoto. Isso aumentaria com um estádio”, afirmou Evelyn Rosenzweig.
Procurada pela reportagem, a Procuradoria-Geral do Município do Rio de Janeiro preferiu não se manifestar sobre a legalidade do possível novo projeto do Flamengo, uma vez que o mesmo ainda é tratado apenas como hipótese. Nos bastidores do clube, a confiança é grande para que o projeto seja viabilizado e a revitalização da Gávea saia do papel. A intenção, no entanto, já surgiu outras vezes, como em 1995, quando o então presidente Kleber Leite acertou acordo para a construção de um shopping na Gávea com o Consórcio Plaza.
Na ocasião, o clube recebeu R$ 5 milhões, utilizados para a contratação de Edmundo, então no Palmeiras, mas o projeto não vingou. Atualmente, o Consórcio Plaza cobra na Justiça cerca de R$ 60 milhões do clube, que já sofreu derrotas em algumas instâncias na questão.
Fonte: Por Pedro Henrique Torre, do Rio de Janeiro (RJ), para o ESPN.com.br