Ex-agente secreto de Israel fará serviço de segurança do Rio-2016; confira.
4 min readDaniel Brito Do UOL, de Brasília.
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FP PHOTO / Anthony Devlin/POOL
A empresa ISDS também atuou no sistema de inteligência de Londres-2012
Uma firma de segurança israelense foi contratada pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio-2016 para montar o esquema de proteção do evento. A empresa chamada ISDS (sigla em inglês para Segurança Internacional e Sistemas de Defesa) e atuou nos Jogos de Londres-2012, Atenas-2004 e Barcelona-1992.
Sua presença no Rio é motivo de polêmica porque é acusada de formar e aparelhar grupos militares e paramilitares que ajudaram a destituir presidentes do cargo ou combater de forma truculenta opositores em países em conflito na América Central nos últimos 35 anos.
Um dos donos da ISDS é o argentino radicado em Tel Aviv Leo Gleser, ex-agente do Mossad, a agência de espionagem israelense.
A empresa será responsável por elaborar políticas de segurança com a consultoria de pessoal com experiência na operação dos Jogos Olímpicos, além da elaboração de conteúdo de treinamento para agentes da segurança privada apenas nas instalações olímpicas. A atuação será durante todo o segundo semestre de 2016, embora o evento seja em agosto (e os Jogos Paraolímpicos, em setembro).
“Pelo que a gente pode ver na mídia todos os dias, trabalhar com segurança no Rio de Janeiro é desafiador”, afirmou Ron Shafran, vice-presidente da ISDS à Israel Defense, revista do governo israelense, que anunciou o acordo, em outubro. Os jornais do país reproduziram informação divulgada pela Israel Defense de que o orçamento de segurança para os Jogos-2016 estaria na casa dos US$ 2.2 bilhões (R$ 5.8 bilhões) e seria gerenciado pela ISDS.
Este valor, no entanto, foi contestado pela assessoria de imprensa do Comitê Organizador dos Jogos. A ISDS, informou o Rio-2016, é uma dos patrocinadoras do evento na condição de “fornecedores oficiais” e o acordo é inferior a R$ 20 milhões (US$ 7.5 milhões).
A informação do participação da companhia no Brasil não foi divulgada à imprensa brasileira pelo Comitê. Mas a notícia teve bastante destaque nas publicações de Israel e da comunidade judaica. O Washington Jewish Week, uma revista dos Estados Unidos, publicou uma entrevista com Leo Gleser e lembrou que caberá à ISDS fornecer o equipamento que examinará malas e bolsas em busca de “armas, explosivos, materiais radioativos com o uso de cinco sensores de diferentes modelos.”
Gleser demonstrou preocupação quanto às acomodações de turistas em navios ancorados no porto do Rio, que podem ser alvo de atentados terroristas.
Mas há diversos episódios na história de atuação da ISDS que geram revolta aos movimentos sociais. À firma é atribuído o que os movimentos sociais chamam de “terrorismo seletivo” de Israel, a um determinado grupo, com efeitos políticos, neste caso contra o povo da Cisjordânia.
O jornalista americano Jon Lee Anderson, da revista New Yorker, revelou cartas da ISDS ao chefe das Forças Armadas da Guatemala, em 1985, nos últimos momentos da guerra civil no país, em que descreve o tipo de serviço que poderia oferecer: “treinamento anti-terrorismo, formação de esquadrão anti-terrorismo, vigilância eletrônica, venda de armas, helicópteros e aviões e um curso de terrorismo seletivo.”
A empresa foi acusada de realizar treinamentos terroristas e montar “esquadrões da morte” com os militares para depor o governo civil estabelecido em Honduras em 1984. Mais recentemente, a uma empresa ligada à ISDS foi acusada de fornecer armas que foram utilizadas para atacar a Embaixada Brasileira em Tegucigalpa, quando o então presidente Manuel Zelaya refugiou-se no local após a investida militar contra ele e seu governo.
Por esses motivos, presença da ISDS nos Jogos-2016 provocou revolta em grupos Pró-Palestina no Brasil e no mundo. Centrais sindicais e movimentos sociais no país pretendem enviar um manifesto ao Comitê Organizador pela parceria com a firma israelense. Eles integram um movimento mundial chamado BDS (Boicote, Desinvestimentos e Sanções) contra Israel, por crimes contra os palestinos e direitos humanos.
Coincidentemente, foi contra um grupo de atletas israelenses um dos episódios mais tristes da historia dos Jogos Olímpicos. Em Munique-1972, oito integrantes do grupo Setembro Negro invadiram a Vila Olímpica e mataram 11 integrantes da delegação israelense, após uma trapalhada nas negociações por parte da polícia alemã.