Austrália estreia depois de escândalo que derrubou técnico e dividiu elenco.
3 min readLucas Coelho, do ESPN.com.br.
A Austrália estreia na Copa do Mundo de rugby pelo grupo A diante de Fiji, nesta quarta-feira, após uma temporada passada bastante turbulenta. Um escândalo entre o atual “primeiro centro” Kurtley Beale e uma integrante da comissão técnica acabou derrubando o treinador Ewen McKenzie, dividindo o elenco e causando uma verdadeira crise na Australian Rugby Union (ARU).
Em setembro do ano passado, durante um voo com escala em São Paulo e que levaria o time para enfrentar a Argentina, uma discussão entre o jogador e Di Patston, business manager e membro do staff, expôs os problemas que existiam dentro da seleção australiana.
McKenzie, até então, tinha recebido poderes absolutos da ARU para salvar o rugby do país do colapso financeiro. Cortando inúmeros gastos e tomando todas as decisões, ele delegou à sua antiga colega de clube, no Queensland Reds, uma função de total influência dentro dos Wallabies. O micro gerenciamento excessivo começou a incomodar jogadores, dirigentes e imprensa.
Os entreveros entre Beale e Patston eram constantes, mas segredo. Após aquela viagem, porém, mensagens de texto obscenas e ofensivas do atleta foram reveladas e desencadearam uma crise sem tamanho, apelidade até de “Textgate“, em alusão ao famoso caso “Watergate”.
O jogador iria ser investigado pela ARU e corria sério risco de ser suspenso da seleção. Parte do elenco se colocou ao lado da business manager – como Quade Cooper e Christian Lealiifano -, enquanto outros jogadores defendiam a permanência do central.
McKenzie, por sua vez, era questionado sobre sua falta de comando na situação e a injustificada contratação de Patston. Junte a tudo isso o corrente boato de que os dois tinham um caso, e forma-se um enredo de novela mexicana.
Um mês depois, treinador e staff estavam desempregados, e Beale esperava a definição de seu futuro. Sob pressão, a diretoria da Australian Rugby Union tentava apaziguar a situação e impedir de qualquer maneira a ida do caso à Justiça. Em maio de 2015, a suspenção do atleta foi evitada depois de um acordo com sua desafeta e uma multa de 45 mil dólares (R$ 180 mil aproximadamente).
Desde então, sob o comando de Michael Cheika, os Wallabiesmelhoraram dentro e fora dos gramados. Conquistaram o Rugby Championship (competição com Nova Zelândia, África do Sul e Argentina) em 2015, mas vem de uma derrota acachapante para os All Blacks na preparação para o Mundial.
Kurtley Beale ainda é peça importante do time. Ele foi destaque na última Copa e esteve entre os indicados para melhor do mundo em 2011. Mas viveu um verdadeiro inferno astral depois disso, que culminou com o escândalo do ano passado.
Em 2013, passou um período em reabilitação por causa de problemas com alcool. Recuperado, na sua volta ao rugby acabou errando dois pênaltis nos minutos finais da estreia no British and Irish Lions tour (disputa contra a seleção da Grã-Bretanha) – o placar final foi 23 a 21 para os Lions.
A derrota na série melhor de três custou o cargo do então treinador Robbie Deans, e McKenzie assumiu. O novo comandante pediu o afastamento de Beale, para que ele pudesse cuidar de uma lesão no ombro: cirurgia e mais um tempo fora.
Hoje, o central é o único protagonista da polêmica que ainda permanece no time australiano e recuperou sua forma nesta temporada. Enquanto isso, o mundo do rugby ainda especula quem estava certo e quem estava errado na história.