18/12/2024

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Ela já desmaiou de fome em treino e foi ajudada por ‘anjo’ antes de virar referência.

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Luís Araújo, para o ESPN.com.br

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Érika em ação pela seleção brasileira
Érika é um dos principais nomes do basquete brasileiro dos últimos anos 

Não faltam feitos importantes no currículo de Érika de Souza. A pivô de 34 anos tem um título de WNBA, foi três vezes eleita para o “All-Star Game” na liga americana, participou de quatro Mundiais com a seleção brasileira e está prestes a disputar a sua terceira Olimpíada. Mas o caminho para virar uma atleta de sucesso se mostrou longo e cheio de obstáculos.

Tudo começou quando ela tinha 16 anos. A altura privilegiada em relação às colegas no vôlei rendeu um convite para mudar e tentar a sorte no esporte que hoje tem como profissão. O trajeto de ônibus entre o Campo Grande, bairro onde morava no Rio de Janeiro, e o Centro Olímpico da Mangueira, local dos treinos, durava cerca de duas horas. A distância incomodava, mas não era o único problema.

“Minha mãe não tinha condições de comprar algumas coisas que eu precisava, como um par de tênis. Ou ela me dava o calçado, ou comprava comida”, conta Érika ao ESPN.com.br. “Algumas vezes desmaiava porque não tinha comido antes de começar a fazer os exercícios. Não era por vontade minha, mas porque não tinha mesmo o que comer.”

Por mais que realmente gostasse cada vez mais dos treinos em si, as dificuldades eram grandes. Mas Érika não desistiu do basquete. A mãe e a avó foram as duas principais razões para que ela seguisse em frente, se tornasse profissional na Mangueira e passasse em seguida por Osasco e Vasco da Gama antes de atuar fora do país. “Elas eram empregadas domésticas, trabalhavam passando e lavando roupa para outras pessoas, limpavam casas de famílias ricas e de escolas, então tudo o que eu fiz foi para poder dar uma vida melhor para as duas”, diz.

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“Infelizmente hoje eu não tenho mais minha mãe ao meu lado, mas antes de ela morrer eu realizei todos os desejos dela. Dei uma casa digna de uma princesa, tratamento dentário para que ela voltasse a ter dentes e dei bonecas que ela sonhava em ter quando criança, mas que não tinha condições de comprar. Vê-las felizes me faz persistir até hoje, porque tenho certeza de que onde minha mãe estiver ela vai sentir orgulho de mim. E poder ver minha avó orgulhosa de mim também é uma alegria sem tamanho para mim. Eu faço questão de ficar com ela toda vez que estou no Brasil.”

Mas ela sente que seria injusto não incluir na conversa outras duas pessoas que a ajudaram bastante no início da caminhada. “Não tem como falar dos primeiros anos no basquete sem mencionar a tia Dalva e seu primo Gerson. Todo dia eles me davam um real para o lanche, que na época era muito dinheiro, e ajudavam com a passagem. Sou muito grata a eles. Se cheguei onde estou hoje e tenho o que tenho, é porque essas pessoas, além da minha mãe e da minha avó, me apoiaram quando eu era ninguém”, lembra.

E quando foi que surgiu a sensação de que a recompensa por tanto esforço estava finalmente começando a aparecer? Érika diz não saber. Quando percebeu, já estava na WNBA. “Acho que foi aí que vi que o negócio era sério”, reflete. Isso aconteceu em 2002, ano em que ela assinou com o Los Angeles Sparks, que conquistou o título naquela temporada.

Ainda que a brasileira, com apenas 20 anos na época, tenha sido muito pouco utilizada durante aquela campanha, aquela conquista teve sabor bastante especial. O motivo? “Não era um time qualquer, era o time de alguém de quem eu era fã”, responde ela, referindo-se a Lisa Leslie, uma das principais atletas da história do basquete americano e cestinha dos Sparks naquela temporada. “Estava ao lado da minha maior inspiração, e ela era uma das pessoas que mais me ajudavam nos treinos. Apesar de ser a estrela do grupo, tinha um coração gigante.”

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Érika em ação pela seleção brasileira
Érika em ação pela seleção brasileira

Lisa não foi a única a ajudar. DeLisha Milton-Jones é um outro nome que Érika cita na hora de lembrar quem buscou facilitar a adaptação dela a uma nova realidade. Mas é uma outra ex-companheira de Sparks que ela classifica como um anjo que apareceu em sua vida em Los Angeles: a croata Vedrana Grgin-Fonseca. “Ela traduzia tudo para mim e me deixava mais à vontade”, conta.

Depois daquela temporada, Érika ficou um tempo longe da WNBA, mas voltou em 2007, quando acertou com o Connecticut Sun. Depois, foi defender o Atlanta Dream, time que a levou a participar três vezes do “All-Star Game”, antes de chegar ao Chicago Sky, onde ela está hoje. Isso além de passagens pelo basquete europeu e também pela liga nacional, a LBF (Liga de Basquete Feminino), da qual foi campeã com o Sport na temporada 2012/13.

Cada uma destas etapas contribuiu para a construção de uma das carreiras mais expressivas do basquete brasileiro. Algo que só foi possível porque ela não desistiu aos 16 anos.

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