Ela pode colocar país nanico no mapa olímpico e fazer o que o Brasil não consegue há 64 anos.
4 min readJean Pereira Santos, do Rio de Janeiro (RJ)
De uma só vez, ela pode cravar seu nome na história do esporte, dar a primeira medalha olímpica a uma nação minúscula e ainda fazer o gigantesco Brasil lembrar uma conquista que pouco valoriza e que não consegue repetir há mais de seis décadas.
Trata-se de Levern Spencer, de 32 anos e que é uma das apenas cinco atletas que Santa Lúcia terá no Rio de Janeiro, mas que chega com poder para incomodar bastante e chances de brigar pelo pódio no salto em altura.
Com só 539km², o país que fica no Caribe é tão pequeno que cabe, em área, mais de 40,5 vezes dentro de Sergipe, o menor estado verde e amarelo, com pouco mais de 21.915 km². Tem também uma população de pouco mais de 182 mil habitantes, enquanto o Brasil soma mais de 204 milhões.
Mais: o principal esporte da nação que faz fronteira com Martinica, São Vicente e Granadinas e Barbados, é o críquete, não o atletismo, o que aumentaria ainda mais o possível feito de Spencer, que vai para sua terceira Olimpíada. Nas duas anteriores, sequer conseguiu chegar à final.
Mas em 2016 pode ser diferente.
Primeiro, porque a atleta tem sido mais constante neste ciclo olímpico; segundo, porque a exclusão por doping do atletismo russo pode ajudar e, terceiro, porque não se pode descartar a experiência de duas participações em Jogos.
Em Londres, para se ter uma ideia, o país europeu ficou com o ouro (Ana Chicherova, 2,05m) e o bronze (Svetlana Shikolina, 2,03m) na modalidade – a norte-americana Brigetta Barrett foi prata, com 2,03m.
Sem as duas russas, já teria gente no pódio com 1,97m, no caso, a belga Tia Hellebaut, que terminou na quinta posição. Spencer tem como melhor pulo da carreira um de 1,98m dado em 2010 durante competição em Athens, na Geórgia (Estados Unidos).
De Pequim para Londres, a atleta de Santa Lúcia evoluiu bastante: foi de 27ª com 1,85m, em 2008, para 19ª colocada na classificação geral com 1,90m, em 2012.
Alguém lembra?
Levern Spencer ainda pode fazer o Brasil se lembrar de uma conquista que quase ninguém sabe ou se recorda antes de uma busca na internet.
Sim, o país-sede dos Jogos de 2016 já levou uma medalha no salto em altura. Faz tempo, foi em 1952, em Helsinque (Finlândia), quando José Telles da Conceição ficou com o bronze.
Foi um feito, afinal, o carioca que cresceu e viveu em Bangu e desejava ser engenheiro tornou-se o primeiro atleta verde-amarelo a subir ao pódio olímpico no atletismo.
O curioso é que, justamente o resultado final da outra prova que Telles da Conceição disputou naquela edição, o salto triplo, ajuda a entender o porquê de sua medalha ser tão ofuscada na história: outro brasileiro, Adhemar Ferreira da Silva foi ouro, tomando todas as atenções para si. Ele ainda repetiu o feito quatro anos depois.
Em Melbourne-1956, o carioca competiu no salto em altura, nos 200m rasos e no revezamento 4x100m; em 1960-Japão, tentou de novo nos 200m rasos, mas encerrou sua participação em Jogos com a conquista de oito anos antes mesmo – morreu novo, com 43 anos, assassinado.
E em 2016, o Brasil tem chance de repetir esta medalha após 64 anos? Só por um milagre!
O dono da casa tem apenas um atleta no salto em altura, no masculino: Talles Frederico Souza Silva, que tem como melhor salto da carreira um de 2,29m, enquanto os principais nomes da modalidade pulam acima de 2,40m, caso do catari Mutaz Essa Barshim, por exemplo, que tem como melhor marca 2,43m.
Spencer pode fazer história. Pode fazer o Brasil recordar-se de uma conquista. E pode fazer o seu país, ainda que minúsculo, aparecer para o mundo, nem que seja por alguns segundos. Ou quase 2 metros.