Norte-americano ‘surtou’ após ouro aos 19; aos 35, voltou para ser campeão mais velho.
3 min readAntônio Strini e Igor Resende, do Rio de Janeiro (RJ), para o ESPN.com.br
A cara de moleque não escondia os olhos deslumbrados com o que acabara de conquistar.
Em 2000, nos Jogos Olímpicos de Sydney, Anthony Ervin tinha 19 anos quando surpreendeu e ganhou a medalha de ouro dos 50 metros livre dividindo a honra ao lado do compatriota norte-americano Gary Hall Jr.
Hoje com 35 e um “vovô” perto dos jovens que querem seu lugar ao sol nas piscinas, Ervin mostrou o mesmo brilho no rosto para se tornar o atleta mais velho da natação a ganhar uma prova olímpica individual. Um ouro nos mesmo 50m livre.
Nesses 16 anos entre a consagração e o recomeço, porém, a vida do nadador foi atribulada. E ele estar aqui para reescrever essa história é quase um milagre.
Filho de pai negro e mãe judia, Anthony Ervin não teve uma infância fácil: descobriu que tinha síndrome de Tourette, o que lhe deu diversos tiques.
A piscina foi um refúgio para aquele rebelde, e ali ele aprendeu a ser rápido. Foi a sua primeira Olimpíada aos 19 e logo ganhou o ouro. O que poderia ser um salto gigante para as temporadas seguintes se tornou um pesadelo, e aos 22 anos ‘Tony’ se aposentou.
A partir daí, o então ex-nadador “surtou”.
“Você é o melhor apenas para aquele momento, e então é passado, e você precisa provar isso de novo. Em minha experiência, ser o melhor é excelente por um segundo, e então é uma merda”, resumiu o nadador.
Utilizou-se de todo tipo de drogas psicoativas, tentou seguir uma carreira numa banda de rock e depois como DJ, até que caiu em depressão profunda.
Sem rumo, pensou em suicídio e chegou a ser flagrado andando de moto a 177 milhas por hora, ou quase 285 km/h. Leiloou as medalhas conquistadas em Sydney (foi prata no revezamento 4x100m) dando o dinheiro para um fundo de ajuda contra tsunamis.
“Eu sinto que meu próprio sucesso é uma vaidade pessoal. Eu sei que é ilusório. Ele não tem muito significado”, disse Anthony Ervin ao jornal Charlotte Observer.
Após o período sabático entre 2003 e 2011, o norte-americano se recuperou e voltou às piscinas. Conseguiu se classificar para os Jogos de Londres nos 50m e ficou na quinta colocação. Agora, aos 35 anos, reconquistou o ouro que foi seu há 12 anos. Algo, aliás, que nunca tinha acontecido na história – ganhar a mesma prova com um período tão grande de intervalo.