Da deficiência em entrevista de emprego ao feito inédito: Israel é prata no tênis de mesa.
3 min readThiago Cara, do Rio de Janeiro (RJ), para o ESPN.com.br
Quando concedeu entrevista aos canais ESPN no domingo, Israel Pereira Stroh preferiu não pensar que estava fazendo história nos Jogos Paralímpicos do Rio. Agora, está liberado: oficialmente, o brasileiro é o primeiro medalhista do país em uma disputa individual do tênis de mesa.
A conquista já estava sacramentada desde a vitória na semifinal, mas foi confirmada nesta segunda-feira, no Pavilhão 3 do Riocentro, após a derrota para o britânico William John Bayley, por 3 a 1 (parciais de 11-9, 5-11, 11-9, 11-4), que rendeu uma prata que é inédita mesmo na Olimpíada.
Tanto na modalidade adaptada, quanto para atletas sem deficiência, nunca um mesa-tenista brasileiro subiu ao pódio em uma competição individual. A única láurea da história havia saído na Paralimpíada de Pequim 2008, com a dupla Welder Knaf e Luiz Algacir Silva (classe 3).
Até o pódio na classe 7, Israel estreou com vitória sobre o mesmo rival da decisão e pelo chinês Keli Liao na fase de grupos. Depois, venceu os ucranianos Mykhaylo Popov e Maxym Nikolenko nas oitavas e quartas, respectivamente; e, por fim, passou pelo chinês Shuo Yan na semis.
Do jornalismo ao tênis de mesa
Israel sofreu uma paralisia cerebral causada por falta de oxigênio na hora do parto, causando comprometimento em seus movimentos nos braços e nas pernas. O brasileiro, que é formado em jornalismo, só descobriu isso, porém, quando participava de uma entrevista de emprego.
O médico que realizou parto não quis admitir o erro e afirmou que as dificuldades nos membros eram normais. Em 2010, foi alertado por um empregador que poderia preencher uma vaga para deficientes. Quando consultou outro profissional de saúde, teve a paralisia diagnosticada.
No esporte, Israel também praticou tênis e badminton. Iniciou no tênis de mesa aos 14 anos e só parou aos 19, quando diminuiu o ritmo de competições para cursar jornalismo na Metodista, em São Bernardo do Campo – foi campeão, porém, dos Jogos Universitários contra competidores sem deficiência.
Como jornalista, formado desde 2009, passou por redações de veículos como Terra, TV Tribuna e Lance! – no diário esportivo, atuou cobrindo o Santos, clube de sua cidade natal.
O retorno ao esporte
Depois de ficar sabendo da deficiência, Israel se aprofundou no paradesporto, chegando inclusive a criar um site voltado para esse universo, o Paratleta Brasil. Atualmente, é atleta da Unisanta, de Santos, e está na seleção brasileira de tênis de mesa desde 2013.
Até março de 2015, porém, o brasileiro competia em uma categoria superior, a classe 8, mas pediu reavaliação, entendo que seus rivais tinham uma deficiência menos grave que a sua. Com sucesso no pedido, Israel se garantiu na Rio 2016 como 12º melhor do mundo. Agora, é medalhista.