Bronze na Paralimpíada do Rio, futebol de sete do Brasil agora teme pelo futuro.
3 min readThiago Cara, do Rio de Janeiro (RJ), para o ESPN.com.br
Medalhista de bronze na Rio 2016, a seleção brasileira de futebol de 7 já sabe que não repetirá a dose em Tóquio 2020. A modalidade é uma das duas que deixou o programa paralímpico para a próxima edição dos Jogos, e os atletas são temerosos em relação ao futuro do esporte.
“Já é complicada a questão de visibilidade, o conhecimento do público com o futebol de 7 paralímpico é pouco. Agora, com os Jogos aqui, no nosso país, e os espectadores vibrando muito, saber que daqui a pouco vai ter que acabar é triste”, disse o camisa 10 Wanderson.
O jogador é uma das referências do país no esporte, tendo sido eleito melhor do mundo em duas oportunidades, em 2009 e 2013. “Foi uma modalidade que mudou minha vida e tem mudado a vida de muitos atletas que eu conheço. Vai ser uma pena. A gente vê atletas novos começando na modalidade e vão ter que parar por ali por causa desta exclusão”, seguiu.
O futebol de 7, praticado por jogadores com paralisia cerebral, integra o programa paralímpico desde 1984, e o bronze no Rio foi a terceira medalha já conquistada pelo Brasil, encerrando um jejum que durava desde a prata em 2004 – o país também foi bronze em 2000.
A modalidade é comandada mundialmente pela Associação Internacional de Esporte e Recreação para Paralisado Cerebrais (CP-ISRA), que reagiu com pesar ao anúncio da exclusão da modalidade – e também da vela adaptada – dos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, em 2015.
No Brasil, a Associação Nacional de Desporto para Deficientes (ANDE) também lamentou, mas garantiu que a decisão não afetaria a modalidade em âmbito nacional.
“A ANDE demonstra tristeza e muita indignação pela notícia recebida “, dizia nota assinada por Frederico Frazão, presidente do órgão. “Reafirmamos que os planejamentos e investimentos na modalidade não serão modificados, pelo contrário, serão intensificados”, segue o comunicado.
Wanderson, contudo, é receoso. “Acho que vai dar uma esfriada. Não queria, mas precisamos ser sinceros, vai dar uma esfriada, sim, na modalidade. Que as pessoas que tem conhecimento da modalidade continuem dando força para que possa voltar ao cenário mundial.”
Pode voltar?
Embora pouco provável, o futebol de 7 ainda acredita que tenha chances de ser disputado em Tóquio. “O futebol traz muito calor humano dentro de uma arena. Se o Japão não voltar atrás, estará dando um passo atrás até na evolução do futebol deles”, opina o técnico Paulo Cabral.
“Ainda há tempo para reverter esse quadro desfavorável. Juntamente com os órgãos paradesportivos nacionais e internacionais, faremos gestões junto ao CPI (Comitê Paralímpico Internacional) para que o nosso Futebol 7 seja reintegrado ainda em Tóquio”, acrescenta Frazão.
Na internet, uma petição foi criada cobrando que o CPI revisse sua decisão e contou com 3.708 apoiadores – o objetivo inicial, contudo, era recolher cinco mil assinaturas.
Dependência de dois estados
Atualmente, a seleção brasileira de futebol de 7 é dependente de dois centros, o Rio de Janeiro e o Mato Grosso do Sul, estados onde nasceram todos os 14 medalhistas paralímpicos. Todos também defendem apenas três times: o Caira-MS, a Andef-RJ ou o Vasco da Gama-RJ.
A principal competição do esporte no país é o Brasileiro organizado pela ANDE. Em 2015, ocorreu entre os dias 27 de setembro e 2 de outubro, com seis clube na primeira divisão e outros oito no chamado acesso – na elite, três times eram sul-mato-grossenses, dois cariocas e só um paulista.
Em nível internacional, além das Paralimpíadas, a seleção brasileira da modalidade tem os Jogos Panamericanos, Copa América e o Mundial para disputar.
No Japão, país que não tem bons resultados no futebol de 7, serão novidades nos Jogos Paralímpicos de 2020 o taekwondo e o badminton adaptados.