Magnano aposta em plano ‘anti-Scola’ e força do garrafão para vencer a Argentina; confira.
5 min readThiago Arantes, de Madri, para o ESPN.com.br.
Um destino esportivo. A definição é de Rubén Magnano, técnico da seleção brasileira masculina de basquete, quando questionado sobre os frequentes embates entre Brasil e Argentina nos maiores torneios internacionais recentemente.
Em 2010, no Mundial da Turquia, os argentinos levaram a melhor, também nas oitavas de final. Em 2012, na Olimpíada de Londres, nova derrota brasileira, agora nas quartas.
Uma série de infortúnios que começou em 2002, nas quartas do Mundial de Indianápolis. Com Ruben Magnano como treinador da Argentina, que seria vice-campeã e, dali a dois anos, ficaria com o ouro olímpico.
Sem dúvidas, “destino esportivo” é mesmo uma boa definição. As duas seleções se reencontram neste domingo, às 17 horas (horário de Brasília) para o terceiro grande confronto em quatro anos.
Magnano tem na ponta da língua as chaves para a vitória: marcação especial no ala-pivô Luis Scola, força no garrafão e… esquecer a pressão de ter perdido os confrontos anteriores.
No hotel em que a seleção está hospedada, em Madri, o treinador atendeu a reportagem do ESPN.com.br. Não esquivou-se das perguntas, mostrou-se tranquilo e falou um pouco de sua visão sobre o que será a partida.
Só se esqueceu dos óculos, que ficaram sobre a mesa de centro, depois da conversa. Horas depois, ele os recuperaria na recepção do hotel.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista com Rubén Magnano:
ESPN.com.br – Brasil e Argentina se enfrentam pela terceira vez seguida em fases decisivas de torneios internacionais. O time do Brasil é praticamente o mesmo das duas partidas anteriores. Quais as diferença para que desta vez o resultado seja outro?
Rubén Magnano – Acho que são situações diferentes. Você falou que os jogadores são parecidos, mas na Turquia [Mundial, 2010] nós chegamos sem o Nenê, e ainda com Anderson e Tiago Splitter meio machucados. Por muito tempo o Marquinhos jogou na posição 4, por necessidade, porque não tínhamos jogadores de garrafão. Hoje acho que a equipe do Brasil está completa, muito parecido ao que aconteceu na Olimpíada. Bem… Pra gente, falta ganhar e quebrar esse tabu negativo que temos com a seleção da Argentina. Curiosamente a gente se encontra sempre em situações-limite, mas eu sinto e percebo que a equipe está muito preparada, com muito foco para continuar.
ESPN.com.br – No jogo do Mundial de 2010, o Luis Scola fez 37 pontos. Na Olimpíada, fez um pouco menos, 17, mas ainda assim foi fundamental. Existe algum plano específico de treinamento para lidar com ele?
Magnano – O Scola tem hoje uma média de 21 pontos no Mundial. É o principal pontuador da Argentina. É claro que trabalhamos taticamente sobre as situações de jogo do Luis Scola. Ele é um cara meio multifuncional, porque joga de frente para a cesta, de costas… Estamos falando de um bom jogador de basquete. Ontem e hoje [sexta e sábado] fizemos nosso trabalho para tentar pará-lo esse cestinha da Argentina. Agora vamos ver se, desta vez, dá certo.
ESPN.com.br – Você trabalhou com o Scola na seleção da Argentina, campeã olímpica. Quando tem de enfrentá-lo com o Brasil, não dá aquela sensação de que você ajudou a criar um monstro?
Magnano – (Risos) Cara, eu não sinto isso! Eu não crio nenhum jogador. Acho que o jogador cresce porque quer crescer sozinho. Acho que alguém pode apenas colaborar, quando está junto, colabora com o crescimento. Eu tive a possibilidade, com certeza, de treinar e dirigir uma equipe muito forte como foi a Argentina nesta época, um time em que Scola ainda era reserva, ele não começava jogando. Mas, desde muito jovem, ele era um cara diferenciado, um jogador realmente diferenciado; e hoje continua sendo do mesmo jeito. Mas eu não vejo assim como “o que eu criei agora se volta contra mim”, isso não. Temos que fazer o nosso trabalho para ofuscar um pouco o rendimento dele, isso está claro.
ESPN.com.br – Existe alguma semelhança entre aquela Argentina de 2004 e a seleção brasileira de hoje?
Magnano – Uma diferença é a idade que os argentinos tinham quando começaram o processo vitorioso e a idade que os brasileiros têm agora. Mas a essência é a mesma. Hoje vejo os brasileiros muito empolgados, com muito foco, sabendo a necessidade que temos de fazer um bom trabalho, que temos uma coisa importante a ser feita.
ESPN.com.br – Essa seleção brasileira é um grupo experiente e que passou pelo menos dois traumas recentes com a Argentina. Parece que é coisa do destino, agora que está fazendo sua melhor campanha, encontra a Argentina de novo…
Magnano – Eu acho que temos de ganhar de Argentina como de qualquer outro time. Agora, como você disse, a Argentina está no nosso destino esportivo, sempre jogamos contra a Argentina. Mas se fosse outro time, também teríamos de ganhar. Quer dizer, será a Argentina, ok… E eu não estou falando tanto da Argentina, mas sim valorizando as coisas estamos fazendo bem, passando confiança para os jogadores. Acho que não é bom estar batendo tanto nesse negócio do tabu, de toda essa coisa, do clássico, da rivalidade… É um momento para falar para eles tudo o que eles fizeram bem até hoje, porque eles fizeram um bom trabalho até hoje.
ESPN.com.br – Fala-se muito de defender-se do Scola. Mas qual é a chave para a seleção brasileira ir bem no ataque? É distribuir melhor as bolas, evitar que o Marcelinho Huertas tenha de pontuar muito…
Magnano – (interrompendo) Mas o Huertas não fez assim tantos pontos….
ESPN.com.br – Mas teve de arremessar muito…
Magnano – Nós começamos nossa preparação, fizemos os amistosos e começamos o Mundial com uma ideia percentualmente muito alta de jogar no garrafão. Mesmo como equipes muito fortes contra a Sérvia, também jogamos no garrafão. Imagina agora contra a Argentina… A ideia vai ser atacar o garrafão, acho que a Argentina não tem os elementos para suportar o jogo de garrafão e terá que trabalhar muito taticamente, deixando de lado outros pontos do campo que nós temos de ser inteligentes e aproveitar. Será um jogo muito tático, mas acho que com presença constante do nosso garrafão.