E-mail ‘na lixeira’, dossiê Corinthians e ‘pito’ de Del Nero: por que Aidar desistiu da Liga de Clubes.
4 min readCamila Mattoso e Marcus Alves, para o ESPN.com.br.
“Então, vocês têm todos dívidas de impostos, é isso?”, perguntou a presidente Dilma Rousseff, tentando concluir a discussão, durante encontro com dirigentes dos clubes no fim do último mês, em Brasília, para debater a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte. Praticamente 99% deles balançaram a cabeça, em sinal positivo. Somente um preferiu se manifestar de forma contrária.
“Não, presidente. O São Paulo não tem dívidas”, corrigiu o representante tricolor Carlos Miguel Aidar.
Em meio à situação delicada enfrentada pela maioria dos times, com uma negociação que se arrasta no Congresso, a atitude de Aidar acabou sendo recriminada por seus colegas, que a classificaram como egoísta, pouco companheira e nada solidária. A ela, se somaram ainda outras polêmicas recentes que fizeram com que a sua tentativa de criação de uma Liga Nacional fracassasse e, ao menos por enquanto, fosse enterrada.
Entre as demais equipes, é praticamente consenso: o cartola são-paulino não é a liderança ideal para conduzir o processo que poderia fazer com que, dentre outros pontos, as cotas de TV fossem revistas.
Perguntado pela reportagem a respeito desse cenário, Aidar esbravejou.
“Que pergunta. Não sei se sou mesmo a melhor pessoa para isso. Eu sei que fui o único que tentou (desenvolver uma nova entidade que representasse os clubes). A pior tentativa é a que não se faz”, responde, desconversando sobre as críticas que vem recebendo nos bastidores.
Uma das principais mostras do desprestígio do presidente tricolor acabou sendo registrada através do envio de um e-mail a representantes dos outros 19 times da Série A em 18 de julho, logo após o fim da Copa do Mundo. No convite para um almoço no Morumbi a que o ESPN.com.br teve acesso (veja mais abaixo), ele convida os colegas para conversar especialmente sobre o Proforte, projeto de financiamento da dívida das equipes, ressaltando que, unidos, poderiam ser mais respeitados.
“Encareço suas participações, não só porque unidos poderemos ser mais respeitados, razão pela qual peço que deixem de lado eventuais diferenças pessoais para que possamos representar nossos clubes perante os demais de forma mais homogênea”, escreveu, em uma referência que pode ser entendida a companhiros de Cruzeiro e Palmeiras, com os quais teve confrontos públicos envolvendo arbitragem e a transferência do atacante Alan Kardec, respectivamente.
Posteriormente, o próprio Aidar terminaria voltando atrás em seu plano inicial por conta da reunião com Dilma Rousseff.
Outro motivo para foi também a baixa adesão das outras equipes.
“É verdade. Não tive muita adesão. A resposta ficou limitada a dois ou três clubes. Todo mundo só olha para dentro de si, esse é o problema”, reconhece.
Com dificuldades de relacionamento no mercado, o presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, é acusado principalmente de estar se movimentando nos corredores para tentar reduzir a cota de TV recebida atualmente pelo rival Corinthians, acima do São Paulo e que deverá disparar ainda mais a partir do triênio 2016 a 2018. Em encontro do G4 paulista, o mandatário alvinegro Mario Gobbi levantou a voz em um dos momentos esbravejando que sabia de todas as movimentações para “tirar” os recursos do clube – ele não se dirigia especificamente a nenhum dos presentes, contudo.
Antecessor, Juvenal Juvêncio ouviu todas as reclamações a respeito de Aidar na ocasião. Estavam presentes ainda: Luis Paulo Rosenberg, Andrés Sanchez, o próprio Aidar, Adalberto Batista, Odílio Rodrigues e Américo Callandrielo Júnior, representando o Palmeiras – Paulo Nobre e José Carlos Brunoro não puderam comparecer.
Até mesmo na CBF, o tricolor paulista anda em baixa.
Durante a Copa do Mundo, Aidar já havia começado a sua movimentação para unir os clubes de alguma forma. No meio disso, em um encontro com o vice da entidade, Marco Polo Del Nero, segundo pessoas que acompanharam todo o processo, o dirigente teria escutado um pedido para não dar seguimento a sua iniciativa, em tom de chateação. Não deverá ser mais problema: o cartola do Morumbi assegura que retirou a sua ‘campanha’ de campo.
“Não, não vou tentar mais. Não há ressonância. Desisti”, afirma. “Não quero fazer mudança nenhuma, o problema é a falta de unidade. Se estivéssemos unidos, tudo seria diferente. Falta unidade. Unidos poderíamos fazer mais coisas e ter mais conquistas. Está faltando unidade”, concluiu.