Schmidt faz apanhado geral em conversa na TV; leia entrevista na integra.
9 min readDo ecbahia.com.
O programa “Camarote” do canal PFC teve como convidado especial o presidente Fernando Schmidt. A entrevista foi para o ar na noite deste sábado, véspera do primeiro BA-Vi que decide o título do Campeonato Baiano de 2014.
Com declarações polêmicas e assuntos impactantes, o presidente tricolor passou por assuntos como a situação drástica que encontrou ao chegar no clube, o corte de ingressos às organizadas, a publicação da lista de despesas com terceiros e teceu comentários sobre o que chamou de “uma nova reflexão sobre o futebol brasileiro”.
Outros temas, não menos importantes, que surgiram no debate foram a possível contratação do argentino Leandro Romagnoli, a utilização da Cidade Tricolor, novo CT do clube, e o planejamento orçamentário para este ano.
Leia:
O QUE ENCONTROU?
Apropriação indébita, salários atrasados, INSS descontado do funcionário e não pago. Com o relatório que recebemos, havia indícios de coisas muito fortes, irregulares. Encaminhamos imediatamente ao Ministério Público Estadual e Federal para que apurassem devidamente a questão. No fim deste mês, ou até no início de maio, esperamos que os dois Ministérios apresentem os dados para que o judiciário tome qualquer decisão.
Quando assumimos, havia um movimento de revolta da torcida que pregava o público zero. No último jogo do Bahia, contra o Fluminense, tivemos a Fonte Nova com casa cheia. Por que isso aconteceu? Só por amor, pela paixão clubística? Não. Porque começamos a conversar com a Arena Fonte Nova mostrando que dentro do conceito de Arena, não poderia se levar apenas conforto. Teria que se levar acessibilidade àquelas pessoas que não tinham condições de pagar aquilo que estava sendo cobrado. Os preços foram baixados e com isso ganharam os dois.
Hoje em dia, não é mais possível imaginarmos o futebol brasileiro, nem nenhuma outra atividade econômica do país, como capitania hereditária nem com gestão temerária. Temos que instalar a democracia nos clubes e fazer com que as gestões sejam absolutamente transparentes. Se for comprovada gestão temerária, ou outras coisas indevidas, eles precisam responder inclusive com seu patrimônio para restituir erário público e o Esporte Clube Bahia.
SÓCIOS
Encontramos um clube com 400 sócios. Destes, 200 elegeram 300 conselheiros. Conseguimos aumentar o número de sócios. Hoje temos cerca de 20 mil sócios. Nas assembleias que foram realizadas que mudaram o Estatuto e elegeram a diretoria executiva mais de 5 mil compareceram para votar. Tivemos que fazer na Arena Fonte Nova e com a fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral com urnas e a estrutura própria do TRE. Com isso, no ranking o Bahia é o segundo clube que mais cresceu, logo depois do Cruzeiro. Não digo que todos estão em dia, mas digo que mais de 50% está em dia e nós estamos fazendo todo o esforço para ampliar o número de sócios, temos como meta ter entre 20 a 30 mil sócios pagantes.
LISTA DE DESPESAS COM TERCEIROS E INGRESSOS PARA ORGANIZADAS
Quando apresentamos nossa candidatura, ela tinha três âncoras. Buscávamos três novos paradigmas para o Esporte Clube Bahia: Democracia, transparência e profissionalização. Essas três questões teriam que caminhar juntas para termos condições de fazer uma mudança radical no clube.
Com relação às torcidas, era preferível, ao invés de continuar com essa prática, distribuir esses ingressos entre os sócios do Bahia, até porque havia forte suspeita que boa parte destes ingressos dados à torcida tinha outras finalidades que não era levar torcedores ao estádio. Eram objetos de transação comercial visando a manutenção da torcida organizada. Eram perto de 3.000 ingressos por jogo.
Isso não quer dizer que rompemos com as organizadas, ou Embaixadas, ou outras formas de organização da torcida. Muito pelo contrário, estamos procurando outras formas de usar essa organização em favor do Esporte Clube Bahia.
Já quanto à lista de despesas com terceiros, é decorrência da transparência. Em nosso Estatuto há uma previsão que diz que qualquer sócio ou torcedor, poderá requerer qualquer informação, de qualquer tipo, da diretoria do Esporte Clube Bahia, além do Conselho Fiscal e Deliberativo. E o Esporte Clube Bahia tem o dever de disponibilizar estas informações. Aliás, nem precisava o Estatuto prever isso. A lei de acesso à informação já prevê e a própria Constituição também já prevê isso. Não deve causar surpresa, ou mal estar isso ser feito. Talvez por não ter sido feito no passado, e isso ter um tipo de ineditismo, aí ter provocado esse frisson. Estou com a consciência tranquila, estou cumprindo o meu dever e agindo de acordo com a lei.
NOVO FUTEBOL BRASILEIRO
Os clubes tem que ser ouvidos, os jogadores, as arenas. Toda essa questão do flairplay que tanto se fala, do flairplay financeiro e outros tipos, precisam ser examinados, enquadrados e transformados em código de conduta. Isso não pode vir de cima para baixo, tem que ser discutido. Ou se muda o futebol brasileiro se dando perspectivas e instrumentos de trabalho, ou teremos sérios problemas a partir do ano que vem.
Não é possível que atletas e clubes não participem desta nova reflexão. No caso do Bom Senso Futebol Clube o que temos visto é que é necessário um código de conduta. Tanto os clubes devem ter direitos e deveres, assim como os jogadores.
ROMAGNOLI E INVESTIMENTOS NO FUTEBOL
Não está nada certo. Mas estamos em entendimentos para que isso ocorra no fim do campeonato argentino. Seria talvez o principal reforço, caso tudo venha a dar certo. Agora, a nossa ideia é fazer a partir do campeonato estadual, a separação daqueles que irão sair do Bahia para aqueles que serão adquiridos para posições que estão carentes. Precisamos de um centroavante, de um 10, de um zagueiro, mas não é a grande prioridade. A lateral direita já trouxemos um. O Romagnoli seria possivelmente o número 10, se vier.
ORÇAMENTO
Fixamos algumas regras e temos metas. O orçamento foi fixado em 2014 para 60 milhões de reais. Precisamos primeiro enxugar as despesas para que sobre o dinheiro para contratações e outros investimentos dentro do clube. O Departamento de Futebol é a ponta do iceberg num planejamento que temos que fazer no Esporte Clube Bahia. Precisamos também buscar novas parcerias. Se tivermos, poderemos aumentar essa receita para mais de 10, ou 20 milhões.
O que havia antes? Chegava aquele caminhão de jogadores com contratos longos e se entregava para o treinador dar um jeito. Às vezes dava, às vezes não. E a folha ia inchando. Agora não. Estamos contratando dentro das metas orçamentárias e isso tem sido acompanhado rigorosamente por toda a Diretoria Executiva. Todos estão empenhados. O Conselho Fiscal e o Deliberativo fazem sucessivas reuniões para acompanhar essa execução orçamentária e com isso nós estamos acompanhando, trazendo atletas que sejam compatíveis com o orçamento e com contratos modificados, que permitam sua produtividade ser avaliada e em função disso, sua própria remuneração seja avaliada.
FOLHA SALARIAL COMPLETA
Uma coisa é certa, vai acabar em 2014, agora, nestes primeiros meses, a chamada folha líquida, como se não existisse INSS, FGTS. Temos uma previsão de folha de cerca de 3 milhões de reais, é uma folha com todos os encargos necessários. Se isso não é feito, é apropriação indébita, é crime. Estamos substituindo um planejamento emergencial, por um mais focado nas coisas que podem ser feitas dentro do clube até 2014. E também começando a estabelecer as metas do planejamento estratégico pelos próximos 10 anos do Esporte Clube Bahia. É claro que até o fim do ano não podemos fazer tudo, temos que focar nas principais prioridade que existem neste ano e estabelecer os marcos que deverão ser seguidos pelos nossos sucessores que deverão ser eleitos no final do ano.
CIDADE TRICOLOR
Pretendo ficar com os dois. Como nós recebemos o clube, não era só dinheiro que não tinha em caixa não. O patrimônio estava zerado. O Fazendão tinha sido permutado pela Cidade Tricolor, a sede de praia tinha sido desapropriada e cedida à prefeitura. O que estamos fazendo agora? Procuramos a empresa que fez esse contrato com o clube e estamos revendo as bases deste contrato, sem prejuízo para a empresa, para que possamos manter o Fazendão, mudando inclusive toda a sede administrativa do Bahia do Mundo Plaza, que são meia dúzia de saas alugadas caríssimas, para o Fazendão. Ampliar o Fazendão para que ele possa cumprir sua finalidade e não só possa manter um bom local para treinamento como ser o local de concentração dos atletas. Toda a parte de hotelaria já foi recuperada no Fazendão. E ao mesmo tempo, negociar, claro comprando dentro de um preço e um prazo negociável a parte da Cidade Tricolor para que lá possamos instalar um grande centro de excelência e formação de atletas. O que não queremos e não pudemos é arcar com o ônus da manutenção da Cidade Tricolor. Ela não foi utilizada ainda, está parada, mas tem partes prontas que podem ser utilizadas. Existem formas de buscar recursos nas prefeituras de Camaçari e Dias D`Ávila, no Governo Federal e aí sim ter aquele centro como verdadeiro centro de excelência que permita ter não só as divisões de base como outros Esporte olímpicos também.
ESTÁDIO E ARENA FONTE NOVA
As arenas eram a alternativa que se tinha. Os clube errarão se não fizerem nada após constatar as coisas que precisam ser corrigidas e permitirem seguir como está depois das arenas construídas e em funcionamento. Estamos em negociação permanente com a Arena Fonte Nova, nos reunimos de dois em dois meses em grandes reuniões extraordinárias e em conjunto fazemos os diagnósticos dos problemas e também debatendo as possíveis soluções para funcionar. Tem que ser um jogo de ganha-ganha, e não de uma parte só ganhando.
O Bahia deveria ter estádio sim, sem dúvida nenhuma. O Bahia teve duas chances disso. A primeira foi quando naquela área onde está hoje o Iguatemi. Aquilo ali tinha sido doado para ser construído o estádio tricolor. Só que as cláusulas eram proibitivas que não podemos levar isso a frente. A segunda vez foi na construção do Fazendão. Não teríamos um estádio do tamanho da arena fonte nova, mas poderíamos preparar as encostas para ali ser construído um estádio.
COPA
É importante, muito importante que não haja um recesso completo nas atividades do Esporte Clube Bahia. É claro que haverá uma diminuição, mas não um recesso, sobretudo de ideias e planejamento do que pode ser feito. Tivemos convites inclusive para neste período fazer excursões na África, Angola, e América do Sul.
PALAVRA FINAL
A minha palavra a toda Nação tricolor é primeiro de agradecimento. Tenho visto que os torcedores em suas várias formas de manifestação tem entendido a necessidade de fazermos essa limpeza no clube para poder novamente ter o time competitivo, com garra, capaz de grandes vitórias como foram as duas estrelas que demonstram isso. Em segundo lugar, queria dizer que confio plenamente que o Esporte Clube Bahia com o que tem hoje, com o que está fazendo hoje e as providências que tem sido tomadas no sentido de enfrentamento desta final do campeonato tem condições sim e será bem sucedido.